A CASA
- Dizem que aquela casa é mal-assobrada.
- Dizem que à noite dá pra ouvir choro, gritos e correntes sendo arrastadas!
- Minha avó disse que o homem acorrentou os filhos e a mulher e pôs fogo neles. E depois se matou em seguida!
- Bobagem! Vocês são uns cagões! É só uma casa velha, que o dono não pôde reformar e foi embora. Não tem fantasma nenhum.
- Não se deve brincar com essas coisas!
- Verdade! Não se deve abusar dos mortos!
- Minha avó disse que os espíritos atormentados moram lá e não deixam ninguém entrar.
- Besteira! Eu entro lá a hora que eu quiser!
- Duvido!
- Eu também duvido!
- Aposto que não tem coragem. Minha avó disse que quem entra lá nunca mais sai.
- Então vamos apostar! Dez reais de cada um e eu entro lá hoje a noite. Vocês esperam aqui do lado de fora.
- Eu topo!
- Eu também!
- Eu topo, mas tem que ser mais cedo, pois minha avó não gosta que eu fique até tarde na rua!
*****
- Trouxeram o dinheiro?
- Eu trouxe.
- Eu também.
- Vou te dar oito e depois te dou o resto. Minha avó não tinha trocado.
- Não me enrola, hein?! Lá vou eu.
Abriu o portãozinho de madeira, caminhou por sobre os blocos de concreto que formavam uma trilha no meio do mato do jardim. Chegou à porta. Estava entreaberta. Empurrou. As dobradiças rangeram. Ligou a lanterna. Olhou para trás e deu uma piscadela.
-Vai ser moleza.
Entrou. A porta se fechou. Por alguns instantes ainda dava pra ver o facho de luz da lanterna dançando pelas paredes. Depois, tudo escureceu.
Algum tempo se passou e nada aconteceu. Nem barulho, nem luz, nem nada. De fora, os garotos começaram a se preocupar com o sumiço do companheiro.
- Será que ele morreu?
-Será que os fantasmas o pegaram?
- Xi... Acho melhor a gente chamar a minha Avó!