A maldição do IP 221.21.21.21

Explicação básica antes de começar a estória: O IP (ou Internet Protocol) é uma identificação única para cada computador conectado a uma rede. Podemos imaginá-lo como um documento de identificação único, como o CPF, por exemplo. Todos os computadores conectados à Internet possuem um número interno de IP.

Capítulo 1 – Inexperiência ou teimosia?

Na Prefeitura de uma certa cidadezinha de interior, mais propriamente dizendo, no setor de informática, dois homens discutiam:

- O problema É da máquina dela.

- Se o problema é da máquina dela, como é que aqui funciona direitinho, só na sala dela é que a internet bloqueia?

- Mas eu testei o cabo de rede, troquei pelo cabo do outro computador e no outro computador o cabo funcionou direitinho, desliguei e liguei o switch e nada!

- Mas eu não mandei você trocar o cabo desde o PC até o switch?

- Pra quê trocar o cabo, se no outro computador o cabo funciona? Só no dela é que não?

- Se o problema é no computador, como é que aqui na sala de informática funciona?

- Não sei. Mas o negócio é que não adianta nada o computador funcionar aqui. Tem que funcionar na sala dela. Eu to achando que a placa de rede deste computador está com problemas, funcionando de modo intermitente.

- Placa de rede não queima assim não. Não teve um curto, não teve um pico de luz, não caiu um raio.

- É, mas esses computadores daquele setor foram doados de outro lugar. Se não serviam pra outro lugar por estarem muito usados, certamente as peça já estão desgastadas e cansadas e isso inclui as respectivas placas de rede, concorda?

- Não. Placa de rede só queima em casos extremos, igual os que eu citei.

José, tinha 46 anos de idade e além de ser funcionário concursado há 20 anos na Prefeitura, era professor de informática e rede de computadores em uma universidade pública. Gusmão tinha 25 anos de idade, era programador, mas entendia um pouco de rede de computadores, não tanto quanto José, mas o suficiente para resolver pequenos problemas. Como a maioria dos funcionários de certos setores de atendimento ao público daquela Prefeitura não tinha a menor noção de informática, só sabiam mexer em Word, Excel e entrar na internet, os problemas eram diários, na maioria das vezes por não saberem usar recursos básicos e simples. Porém, o computador que estava na sala da divisão de tributos de IP 221.21.21.21 sempre apresentava problemas de conexão. Uma vez um problema qualquer fosse resolvido, dias depois a conexão com aquele computador voltava a entrar em conflito com a rede. Não se poderia trocar o número de IP dele por uma questão de organização, afinal eram 182 computadores ao todo em toda a sede da Prefeitura. E aquele era o mais problemático de todos os 182.

Um dia, o Prefeito resolveu trocar aquele computador por um novinho, com todas as configurações top de linha. O gestor pegou pessoalmente aquela máquina velha e problemática e ao jogar em uma enorme lixeira, disse:

- Este nunca mais vai dar problemas!

Mas para a surpresa da funcionária que trabalhava com aquele computador, dos funcionários do setor de manutenção e do próprio Prefeito, aquele computador novinho, nos primeiros dias de uso com o IP 221.21.21.21 começou a ter conflitos com a rede interna da Prefeitura!

Os técnicos da Central de Processamento de Dados da Prefeitura ficaram pasmos com o ocorrido e sem saber direito o que fazer.

Capítulo 2 – Ano de 1986 – O “Nerd” da sala de aula.

A dois quarteirões de distancia da Prefeitura, ficava o Centro Educacional Neide da Silva Oliveira, mais conhecido pela abreviatura do nome “CENSO”. Naquele educandário do Governo Municipal, instalado em um prédio com instalações elétricas e hidráulicas precárias, estudava o jovem Fernando. Um adolescente de 14 anos de idade, muito magro e alto que adorava informática e sempre tirava boas notas em todas as matérias. Viciado em Atari (vídeo-game famosíssimo na época), sempre batia todos os recordes estipulados pelos seus colegas de escola. Fernando estudou firme até se formar aos 21 anos de idade, para o orgulho dos pais e amigos e a inveja dos inimigos.

No dia da festa de formatura, vários adolescentes beberam até ficarem totalmente embriagados. Naquela noite, exatamente no dia 21 de Abril de 1992, Fernando foi até a Prefeitura, como em todas a tardes o fazia, onde esperaria a sua mãe, que era funcionária da Prefeitura, sair do trabalho para levá-lo de carro pra casa. Mas não deu tempo da mãe do rapaz levá-lo para casa. Um grupo de ex-alunos do CENSO o cercaram! Inimigos que ele fez sem querer ao demonstrar suas habilidades no vídeo-game e ao tirar notas melhores do que as deles na escola. Os jovens o seguraram, o espancaram até a morte e antes de morrer, ele pensou: “Maldito seja este dia! Maldito seja o dia 21, ou qualquer coisa relacionada ao número 21!”

Dizem que até hoje, naquela Prefeitura, qualquer coisa relacionada ao número 21 é assombrada pelo fantasma do rapaz.

FIM

Eduard de Bruyn
Enviado por Eduard de Bruyn em 03/05/2019
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