KAFION

O telefone tocou ás 03:33 da manhã e continuou tocando até as 06:00 horas daquela manhã de Janeiro.

O telefone na cômoda ao lado da cama estava no gancho. Ao redor, apenas uma caneta azul, uma bala de hortelã e um escova de dentes usada.

A voz do lado de fora do quarto parecia ofegante.

- Tem alguém aí? Oliver? Oliver, sou eu, Guda. Oliver!

A maçaneta foi forçada, mas não abriu.

Ouviu-se um murmurinho.

- Tente mais uma vez.

Ouviu-se bater na porta.

- Oliver. É o Guda, acorde.

Silêncio.

Alguns raios de sol já começavam a clarear de leve o quarto pela janela entre aberta.

A porta estourou e entre as lascas do batente, dois homens magros, por volta de 46 anos entraram.

- Santa Maria, mãe de Deus - Disse um dos homens que vestia uma boina de lã parda, uniforme do Hotel e que logo cubriu o rosto, mais precisamente o nariz.

Talvez fosse o mal cheiro do quarto. Talvez fosse o mal cheiro do corpo sobre a cama. O outro homem, Guda, que vestida um macacão jeans e parecia inchado pela bebida, se aproximou lentamente da cama. Sendo um alcoolatra, parecia nem perceber o mal cheiro.

- Guda... Eu sinto muito, eu... Eu... Sinto muito.

Guda esboçou um sorriso que logo virou gargalhada.

- Não é ele, Baco. Não é ele... O meu irmão ta vivo. A identidade é a do meu irmão, mas esse não é ele. Ele ta vivo, cara...

- Não pode ser... Então, quem é esse?

KAFION.

Entrecidades Kintsugi
Enviado por Entrecidades Kintsugi em 02/05/2019
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