UM DIA DE TORMENTA
Através das labaredas e da densa fumaça, apareceu um jovem rapaz, com a moça desmaiada nos braços. A multidão aflita, começou aplaudir o rapaz, enquanto ele se aproximava todo ofegante e sujo de carvão.
Aproximadamente três metros de distância dos curiosos ele parou. Colocou aquela jovem desmaiada no chão, e começou um processo de reanimação. Tentou por meia hora, não conseguiu
a jovem veio a óbito, diante dos olhos aterrorizados de todos. O belo rapaz, desabou em um pranto triste cheio de dor, levantou o rosto da moça até a altura de sua cabeça e deu-lhe um beijo na boca. As pessoas presenciaram a cena em silêncio... Não conheciam aquele rapaz e nem a moça. Tinha apenas três meses que aquela jovem tinha mudado para aquele apartamento. Era um condomínio de classe média alta, seus moradores não se misturavam muito com outros a maioria eram de outros países. Estranhamente aquela moça era diferente, vivia ali sozinha, nunca recebia visitas de ninguém. Alguns finais de semana, ela descia para a recepção com trajes diferentes do costumeiro. Vestia sempre um short, regata, tênis branco e boné, nos ombros carregava sempre uma mochila preta. Não dizia uma palavra sobre onde ia, e o que fazia. Todas as vezes esperava alguns minutos na recepção do condomínio, conversava com o recepcionista e o porteiro, mas nada que revelasse algo sobre si. Logo um carro todo preto com os vidros escuros, parava e ela entrava. Só voltava no domingo por volta das 20:00 hs. Agora aquela bela jovem estava ali imóvel, seu rosto perfeito ganhou aos poucos uma coloração pálida a morte é uma coisa estranha... Olhando para ela agora percebe-se a mudança repentina na fisionomia daquela jovem, seus lábios antes tão rosados, adquiriu um tom arroxeado, seu nariz está muito mais afinado seu rosto com coloração desbotada e aparência rígida...Já não lembra em nada, a moça linda que era a duas horas atrás, quando ela havia chegado do seu passeio misterioso, dos finais de semana. O rapaz desolado, ficou ali por algum tempo com a cabeça dela no colo, abraçava o corpo da jovem e choravam muito... Conversava com ela, pedindo explicações, porquê você fez isso? Repetia sem parar, como se soubesse que ela própria tivesse incendiado o apartamento.
Antes de deixa-la repetiu duas vezes no ouvido, meu amor, sempre te amei porque fez isso? Porquê?
Dava para sentir a tristeza em suas palavras.
Sem dizer uma palavra à
ninguém levantou-se, despediu da jovem morta
fez uma ligação e se afastou lentamente, sem olhar para trás. Aos poucos as pessoas foram se dispersando. Deixando o corpo da moça, sozinho lá na calçada. Poucos minutos depois chegou carro do IML e removeu o corpo da jovem. Até hoje ninguém soube quem era o casal. Não souberam o que houve ali, nem porquê a jovem incendiou o próprio apartamento. Anos depois apareceu por lá um senhor de meia-idade com uma senhora bem idosa e debilitada, ficaram em frente ao condomínio olhando para cima onde ainda estava aquele apartamento igual o dia da tragédia, todo chamuscado pelo fogo.
Aproximaram da recepção e chamaram o porteiro, pediram para abrir dizendo que iriam subir, tinham as chaves nas mãos. Entraram no elevador e foram para o apartamento.
Não desceram, o porteiro, o recepcionista se preocuparam, e subiram para ver o que se passava, encontraram o tudo, e o apartamento impecável por dentro. Não existia nada ali que indicava ter havido um incêndio. Estranharam e chamaram a polícia.
Relataram tudo, o que havia acontecido,a dez anos atrás, e o que estava acontecendo naquele momento. Os policiais subiram para procurar o senhor e a idosa, foram conferir a veracidade das informações. Ficaram lá por algumas horas, até que na portaria o porteiro e o recepcionista lembraram que eles também não retornaram do apartamento a muitas horas.
A partir desta daí , ninguém mais quis subir no apartamento para checar mais nada. Isso aconteceu a mais de cem anos, e nunca foi desvendado o desaparecimento destas pessoas. Vinte anos passados... o edifício foi reformado muitas vezes, mas ninguém teve coragem suficiente para tocar em nenhuma parede daquele apartamento.
Por fora ele continua igual, todo chamuscado de fogo. Por dentro ninguém sabe...
Dá para perceber que assim será para sempre!