A Oportunidade
Dia de sol em Copacabana. Aquele domingo era o dia perfeito para eu comemorar os meus 70 anos de idade. Motociclista das antigas, eu estava passeando perto da orla com a minha motocicleta andando bem devagar à 35Km/H pra evitar qualquer acidente. Eu estava pensando: “Comemorar o quê? O fato de ter envelhecido e portanto não ter mais a virilidade e disposição de um jovem?” Se eu pudesse, voltaria no tempo, mas não aos anos 70 quando eu era jovem e sim no meu tempo de vida, ou seja, se eu pudesse, teria 20 anos de idade hoje, onde algumas coisas são bem diferentes. Ao observar os corpos esculturais de algumas das jovens e belas mulheres de biquíni na praia, eu fico triste só de saber que nenhuma delas iria querer coisa alguma com um coroão gordo e acabado tipo eu. Algumas talvez até quisessem, mas só por dinheiro. E eu não tenho dinheiro. Se eu fosse jovem nos tempos de hoje, pegaria algumas delas, certamente não todas, mas não precisaria de dinheiro pra pegar algumas.
Eu vejo as pessoas tão felizes na praia, algumas bebendo água de côco, algumas surfando, algumas comendo camarão frito, algumas jogando futevôlei. Comemorar 70 anos, ciente de que se eu estivesse mais jovem algumas coisas na minha vida hoje em dia seriam bem diferentes, como a minha vida sexual por exemplo, me soa meio estranho. É como comemorar uma derrota.
De repente, um menino de 2 anos de idade atravessou na frente da minha moto! Tochei o pé no freio traseiro, apertei com tudo o freio dianteiro! Mas o menino atravessou tão em cima da moto, que embora ela tivesse dado a famosa derrapada, o pneu dianteiro bateu no tórax da criança, fazendo o menino rolar pelo asfalto. A moto parou 1 segundo depois e prontamente eu desliguei o motor, desci da moto, coloquei o descanso lateral, tirei o capacete, pendurei no retrovisor e corri pra perto do menino. Ajoelhei-me do lado dele e vi a jovem mãe dele chorando e todos me olhando com olhos de fúria! Desesperado, eu olhei para o céu, abri os braços e gritei:
- Meu Deus! Por favor! Me leve no lugar dele! Eu estou velho!
Logo em seguida eu desmaiei.
Acordei em uma maca de hospital. Ao lado da maca, estava a mãe do menino, estranhamente sorrindo pra mim. Instintivamente, eu perguntei:
- Como ele está?
Estranhamente, ela me abraçou e disse chorando:
- Ah! Ricardinho! Mamãe pensou que tivesse perdido você! Aquele motoqueiro malvado infartou e morreu lá na praia, meu lindinho! Você vai ter que ficar dois dias no hospital de observação. Promete pra mamãe que nunca mais vai atravessar a rua sem olhar pros lados, ta bom?
Quando ela foi embora, eu olhei para as minhas mãos e para o meu corpo e só então eu entendi que Deus havia me dado a oportunidade de começar tudo de novo.
FIM