Uma Vida Azul - Capítulo V: Telhado
Thomas brincava no tapete com seus primos. Era noite de natal e acabara de ganhar um trenzinho a fricção. Reparava como sua mãe não parava de fitá-lo, da mesa onde conversava com o restante dos adultos. Notara preocupação em seu olhar, mas não conhecia suas motivações.
Mais alguns minutos de brincadeira e Thomas notou a presença de uma criança, essa não era sua parente, mas, o chamava do pé da escada, acenando com a mão direita. A menina era mais alta que ele, tinha a pele branca e usava uma fita azul no cabelo. Ele não a conhecia, mas sentiu vontade de ir até ela.
-- Venha comigo, vou te mostrar um lugar secreto, mas você não pode contar aos adultos, tá bom? Disse a menina.
Thomas não disse uma palavra sequer, mas a seguiu escada acima, entrou no quarto de sua tia e viu a menina abrir uma portinhola, pouco maior que eles, onde de dentro podia-se ver luzes coloridas e escutar uma música alegre. Thomas deixou o trenzinho cair no chão, com os faróis acesos e seguiu a menina adentro da portinhola.
Ao passar pela passagem, sentiu um vento soprar-lhe o rosto e pensou ter ouvido a voz de sua mãe o chamando, muito distante e preocupada. A menina, porém, pediu para ele continuar a segui-la. Passaram por cima de uma ponte estreita e ela mergulhou num lago raso. Thomas inclinou-se para mergulhar também, mas ouviu a voz de sua mãe novamente:
– Olha pra mamãe, filho, venha pra cá, agora!
Em um instante percebeu-se em cima do telhado de sua tia, tremeu de medo e voltou correndo aos braços da mãe. Nesse momento o menino reage àquela cena com um misto de choro e berros, abraça sua mãe do lado de dentro da janela e apenas chora por alguns minutos.