SONHO COM A MORTE

A tarde ensolarada foi a primeira coisa que Aldenes percebeu quando despertou de um profundo sono, deslumbrou-se com um céu azul com pouquíssimas nuvens brancas, estava ainda bastante sonolento e não lembrava de mais nada além de uma noite regada de muita agitação, música e bebida. Somente disso se recordava. Teve a impressão de estar levitando, afinal não estava de posse de sua consciência dentro da normalidade, via a copa de algumas árvores e um campo esverdeado e com muitas flores. Até aí não se incomodou muito até ter noção de que descia vertiginosamente tal qual um helicóptero em operação de pouso. Assustou-se com essa cena e seu cérebro pareceu voltar a "normalidade", o que o deixou momentaneamente confuso, não sabia o que estava realmente acontecendo. Enfim estava de pé em um local que nitidamente conhecia e perguntou a si próprio o que fazia ali. Claro que não saberia responder. Muita gente estranha ali se encontrava, porém rostos muito conhecidos vislumbrou. Sentiu-se mais confiante e teve o ímpeto de se dirigir para essas pessoas do seu relacionamento, mas uma força estranha parecia impedir os seus movimentos. Ficou estarrecido ao constatar que ninguém olhava em sua direção apesar da pouca distância. Que decepção, pensou. Olhou para si próprio, se apalpou e indagou: o que está acontecendo? Por que não falam comigo? Aldenes só caiu em si quando viu um caixão e dentro dele um corpo. Ao redor do mesmo pessoas em crises convulsivas de choro. Se deu conta, ou melhor, teve a certeza de que estava em um velório no Parque das Flores, cemitério muito conhecido do Recife. Começou a chorar sem conseguir derramar lágrimas, via ali presente seus pais, irmãos e amigos, além de alguns familiares. Tentou abraçá-los mas não obteve êxito, todos estavam fora do seu alcance de comunicação apesar de estarem tão perto. Seus braços não os envolvia e se entrelaçavam como se estivesse abraçando a si mesmo. Gritou, esperneou, mas continuou incomunicável, ninguém lhe dava a mínima atenção. Instintivamente olhou para o corpo dentro do caixão e teve um arrepio, um acesso de loucura. Ali estava ele, era seu corpo inerte que estava sendo velado. Mais uma vez gritou desesperado: gente, eu estou aqui, por que não me vêem?

Alguns minutos se passaram e uma voz doce falou ao seu ouvido: acorde, meu filho, já está na hora de ir trabalhar, ontem você bebeu muito mas isso não justifica. Vá tomar seu banho e depois vá para a mesa senão o café vai esfriar. Aldenes chorou copiosamente ao acordar de verdade e ver o rosto de sua mãe beijando a sua face.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 10/12/2018
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