ASSASSINATOS EM SÉRIE.
A paz e a tranquilidade foi tirada da pequena e pacata cidade de Miramar, no litoral sul de São Paulo. A cidade amanheceu com a triste notícia do assassinato de dona Maria Mercedes das cocadas. A mulher cinquentona tinha uma barraca de doces e licores, na praça da matriz, há trinta e seis anos. O delegado Enoque Gomes, fã de Sherlock Holmes, chegou a casa da vítima às sete da manhã, trazendo a tiracolo seus ajudantes, os guardas Campos e Fernando. Dona Maria Mercedes estava caída no chão da cozinha, amarrada e amordaçada. Uma xícara de porcelana inglesa estava sobre a mesa, com um restinho de chá. O guarda Campos recolheu o líquido num vidro vazio de mertiolate para futuras averiguações. Ela morava sozinha. Não havia sangue nem sinais de violência. O sobrinho da vítima, Reobaldo, encontrou a tia morta. A porta não tinha chave nem trancas. Era só encostada, como nas cidadezinhas do interior, onde há só roubos de galinhas. Era o primeiro assassinato nos 75 anos de Miramar. Uma cidade turística devido a beleza da praia do forte e de Massaranduba, locais paradisíacos. A população de novecentos habitantes estava em choque. O carro funerário veio da cidade vizinha, Salinas de Santana. A foto da vítima saiu no jornal A Tribuna, de quatro páginas. O boato da morte correu entre pescadores e ribeirinhos. O delegado logo desconfiou de alguns hippies e surfistas, hospedados na pousada da serra, única de Miramar, de propriedade de Seu Alcir, tenente aposentado. -" Ninguém saiu da pousada, seu delegado! Fecho as portas as vinte e duas horas. Não foi turista que matou a banqueteira Maria Mercedes! Eu garanto!!!" O delegado estava intrigado. -" Quem faria isso com uma pessoa tão boa? Amada e respeitada. Membro do grupo do apostolado da oração da matriz. Um doce de pessoa. Incapaz de fazer mal a uma mosca???" O velório se deu no salão de festas da matriz. O padre Rafael era a tristeza em pessoa. Era fã número um das cocadas da banqueteira. Era amigo dela há décadas. As amigas do grupo de oração estavam desoladas. Chorosas. Pesarosas.-" Esse monstro deve ser preso!!!" Gritou dona Toninha, proprietária do salão de beleza, em frente a praça da matriz. -" A bondade era o verbo, o verbo se encarnou e chamou-se Maria Mercedes!!! Vá em paz, amiga!!!" Disse dona Heleninha, da loja de artesanatos. As quarenta mulheres do grupo começaram a entoar hinos religiosos. Dona Carmela, esposa do prefeito Teodorico, fez um discurso emocionado. O bêbado Bibico chegou ao velório. -" Oh, dó. Minha mãe de coração. Me dava uma cocada toda manhã!!! Seu Aníbal, do armazém de pescados, consolou Bibico. -" Ela só fez o bem. Vai fazer falta!!!" Bibico ergueu a voz. -"Tem de pegar o assassino! Tem de pegar!!!!" Dona Mariana das tapiocas, que também tinha uma barraca na praça da matriz, estava tristonha com a perda da amiga. -" Nós duas fazíamos planos de abrir um quiosque na praia. Não deu tempo." Choveu durante o enterro. Um dia triste. O prefeito decretou luto oficial de dois dias. O delegado interrogou o sobrinho da vítima. O moço entregou ao policial o caderninho de clientes da tia. -" Muita gente devia pra ela, inclusive o doutor delegado!!!! Inimigos ela não tinha!!!" O delegado coçou o queixo. -" Sim! Vou retribuir o carinho de sua tia pagando a placa de bronze com foto,, no túmulo dela!!! Vou estudar esse caderninho!!! " O delegado ouviu os vizinhos da vítima e ninguém notou nada de anormal. Conversou com algumas senhoras do grupo de oração. Nada, nenhuma pista!!!! Nenhum motivo pra morte. Interrogou alguns turistas mas não teve êxito. Conversou com o pipoqueiro Tibúrcio, o sorveteiro Dimas e o taxista Nonato. Nenhuma pista!!! Um mês se passou. -" Senhor prefeito, não há suspeitos! Nenhum sinal do assassino da banqueteira!!! Vou arquivar o caso!!!!" O prefeito concordou. A rotina voltou ao lugar. O prefeito Teodorico saiu de seu gabinete, na prefeitura. Despediu-se da faxineira Goretti, do guarda Amorim, da secretária Cristiane e do motorista Adivânio. Gostava de ir embora a pé. Passou pela praça da matriz, como sempre. Cumprimentou uns e outros. Comprou rosas pra esposa na floricultura de dona Margarida. Sorridente. Simpático. Uma quadra. Duas quadras. O sobrado de dois andares onde morava. Entrou com as rosas na mão. -" Onde está aquela que se chama Carmela e é a mais bela entre as mais belas????" A esposa gostava quando ele a chamava assim. Subiu ao quarto. Nenhuma resposta. Silêncio total. As rosas caíram da mão ao ver a primeira dama caída. Amarrada e amordaçada. Morta. -" Carmela!!!! Meu amor!!! Não!!!!!" Gritou. Telefonou ao delegado. Logo a casa cercou-se de curiosos. A notícia se espalhou. O padre consolou o prefeito com um abraço. O policial Campos notou a xícara com resto de chá sobre o criado mudo. -" Uma xícara igual aquela da casa da banqueteira, delegado!!! A mesma porcelana inglesa." O delegado recolheu a xícara e o chá. -" Elementar, meu caro Campos !!! Temos um serial killer em Miramar!!!!" Exclamou o delegado. (Continua...)