Uma princesa sem coroa!
Todos os dias eu olhava o reino pela janela do castelo. Aquele reino era enorme. A vida das pessoas me fazia perder o fôlego. Eu as via no vai e vem que era a labuta de todos os dias. Elas cuidavam da feira, das vendas e do sustento das famílias. Meu pai era o rei. Ele quem fazia as leis daquele lugar. Todos obedeciam se curvando, pois diziam que meu pai era muito vingativo.
O castelo fora construído no alto de uma colina. Bem no topo do moro e a vista dava para todos que viviam ali ao redor. Não sei ao certo quando fora construído, mas vivo lá dentro desde que eu nasci. Meu pai, o rei, não me deixava sair do castelo. Dizia que eu era muito nova e inocente para me aventurar naquele enorme reino. Havia guardas robustos vestidos com armaduras e sempre com espadas nas mãos cuidando da entrada do castelo. Ali só entrava quem o rei deixava.
Quase nunca tínhamos visitas, meu pai, o rei, não era um rei muito agradável, apenas vez ou outra eu via que alguns homens o procuravam para implorar a ele por algo ou alguma coisa que o deixava furioso. Nunca ninguém entrou no castelo sem que aqueles guardas o acompanhassem até meu pai. Sabia que a conversa não era cordial. Porém, meu pai sempre dizia para que eu ficasse longe dos negócios do reino dele. Eu ficava. Meu pai sempre me tratava como uma digna princesa daquele lugar. Ele deveras não queria que nada acontecesse comigo.
Quando nasci, o reino vizinho que ficava abaixo do nosso nos atacou travando uma guerra terrível. Foram muitas mortes e muita destruição que aqui acontecera. E uma tragédia sucumbiu nossa vida. Minha mãe, a rainha, fora morta por um dos guardas do reino inimigo. A partir desse dia meu pai, que era um rei bom, passou a ser um rei violento e vingativo. Não comigo. Comigo era amável e prestativo até demais. Dizia que a vida lá fora não era para uma princesa indefesa como eu e que um dia eu entenderia tudo sobre a vida, sobre as pessoas que ali moravam, sobre como ganhava o dinheiro e sobre toda a maldade que as pessoas carregavam em si.
Certa vez, minha curiosidade ficara maior do que das outras vezes. Comecei a perceber que as crianças do reino brincavam, jogavam bola, empinavam pipa, enfim, pareciam crianças felizes. Então, me perguntei o porquê eu não poderia estar lá, brincando com elas, afinal, além de princesa, eu também era uma criança. Decidi sair do castelo para conhecer as pessoas que viviam e labutavam ao nosso redor. Escondi-me dos guardas e fugi. Não fora difícil, nunca havia tentado fugir. Estavam despreparados.
Não sabia ao certo para onde eu ia, eram muitas ruelas para descer. Um labirinto de ruas estreitas ao redor das casas todas muito juntas até chegar ao campinho onde as crianças brincavam. Percebi que não era um reino bonito, um reino cuidado, era um reino assustador. Muitos guardas armados e mal encarados ficavam espiando para o reino vizinho que ficava bem abaixo do nosso. Ali fora do castelo, pude perceber que naquele reino inimigo, não havia muitos guardas como no nosso. Dispersei-me e fui descendo cada vez mais. Ninguém me conhecia, pois nunca tinha ousado em sair do castelo do alto daquele moro.
Ao chegar lá embaixo, pude ver que aquele reino não era como o nosso e ali eu não era uma princesa, era apenas uma garota como outra qualquer. Porém ali, também havia guardas e também as pessoas corriam para um lado e para outro para buscarem os seus sustentos. Entretanto, eu não entendia por que nossas vidas tinham que ser separadas por reinos diferentes. Eu não entendia por que precisávamos nos esconder lá naquele moro, dentro daquele castelo e que as pessoas precisavam viver sempre se escondendo. Mas uma coisa eu pude entender, meu pai não era um rei de contos de fadas, os guardas não eram guardas dos contos de fadas, o castelo onde moro também não é um castelo de contos de fadas e eu, áh, eu não sou uma princesa de contos de fadas. Sou uma garota que vive num moro separado por facções que passam suas vidas inteira brigando por dinheiro e poder.