Sonhos, dramas e imaginações
Não é que eu seja dramática. Bem, às vezes eu sou. É que minhas imaginações me assustam. Assustam as pessoas também. Por isso pensam que sou assim, sonhadora.
Certa vez, imaginei, imaginei não, eu vivi uma situação bem inusitada. Naquela noite escura, fria e nebulosa, saí de casa para dar um passeio. Encontrei um amigo que há anos não o via. Conversamos muito, falamos sobre o que tinha acontecido por volta de vinte anos atrás. Demos muitas risadas de tudo o que aprontávamos, sim, éramos inseparáveis. Senti uma felicidade que não cabia em meu peito por tê-lo reencontrado. Contudo, notei que se passaram vinte anos e ele continuara o mesmo, igual da última vez que o vi.
Meu passeio continuou. Estava muito feliz pelas velhas lembranças vividas naquele instante com meu amigo. Fui andando. A noite já não estava mais tão fria. Foi então que encontrei uma velha senhora sentada no banco da praça. Olha, não via esta senhora há muitos anos. Cumprimentamo-nos e ela me perguntou como estava meu pai. Disse a ela que estava sentindo muita saudade dele. Ela disse que ele sempre estava me cuidando.
Continuei minha caminhada e logo a seguir, estava lá, meu pai, do outro lado da praça. Sentado, com seu chapéu de palha na cabeça, aquele bigode ainda por fazer, tomando seu chimarrão como sempre fazia. Espantei-me! O que faria meu pai na praça, em uma noite escura e nebulosa?
Ele me chamou: - Filha vem aqui com teu pai? Sente-se ao meu lado. Sentei. Pude sentir o mais puro dos aromas. Pude ver seu brilho no olhar como o raio de um sol ao meio-dia. Era tão bom estar ali, do lado do meu pai. Sentia-me segura, tranquila e uma paz interior que nem ao menos posso descrevê-la.
Meu pai me acariciava. Então estranhei. Meu pai não fazia isso. Porém, o deixei. Era tão bom senti-lo ali do meu lado, sentir seu calor. Abracei-o. Ele retornou a me abraçar. Estávamos em uma ligação muito forte. Como há anos não vivíamos mais essa ligação. Aquele momento estava tão mágico que não queria que acabasse mais.
Convidei-o para irmos para casa. Já era hora. O frio já estava retornando. Ele disse para eu ir à frente que ele já ia depois de mim. Falei para não demorar, pois da última vez ele demorou muitos anos.
Foi quando retornei para casa. Olhei para a estante da sala. A foto do meu amigo lá, exposta, em cima de uma moto. Ele era apaixonado por motos. Mas, como num piscar de olhos, sua vida lhe foi tirada de cima de uma moto, há mais de vinte anos. Noutro lado da estante, outra foto. A senhora sentada na praça. Uma imagem dela num porta-retratos tirada há muitos anos, antes de sua morte.
Fui para meu quarto e estava lá, meu pai. Sim ele. A imagem dele sentado em um banco com seu chapéu de palha, o bigode por fazer e tomando chimarrão. Quantas saudades senti naquele momento. Ali, na frente daquela imagem, soube que jamais estaria sozinha. Por onde for, encontrarei o melhor amigo, uma senhora, uma criança ou até mesmo um adolescente.
Sabia que meus dramas e minhas imaginações, podiam assustar a muitas pessoas, e até a mim, mas eu sabia que podia confiar que mesmo na hora da escuridão, meu pai jamais irá deixar de viver comigo. Seria apenas um sonho, um drama ou imaginação?