Veridiana

Caminhava a passos medidos com um andar que era sua identidade e não havia igual no mundo. E como conhecia aquele andar, o José. Olhava o trânsito, a rua, as pessoas e o relógio da torre que apontava meio dia. A bolsa a tiracolo assentava sob medida ao quadril que não escandalizava nem era vulgar, vincava a tarde à silhueta das belas curvas. Entrou na loja de roupas quebrando a monotonia do local que anunciava pouco movimento àquela tarde. José, com o olhar, dispensou o outro vendedor e como de costume veio ele atendê-la.

- Boa tarde, Veridiana! Gostava de falar o nome dela.

- Boa tarde! Gostaria de ver umas blusas para o inverno. Falava como sempre educada e pausadamente com a voz entoando cada frase com suavidade e doçura, a despeito de um olhar indiferente.

- Sim, vou lhe mostrar algumas de uma coleção que recebemos semana passada.

Os olhos passeavam pela loja e não fosse para onde se perdiam, diriam que procuravam alguma coisa. Olhavam para os cantos, para os lustres, nem o chão e o interior dos armários se escondiam deles. Olhavam para tudo e para nada. Essa dispersão e ausência de espírito que demorava tanto a voltar, envolviam-na num mistério sedutor. Tinha uma expressão ensimesmada que levava a crer que realmente não via o que estavam lhe mostrando.

Passou quase toda a tarde entrando e saído do provador. Todas os modelos lhe foram mostrados e apenas um lhe agradou, ou se nem aquele, não demonstrou que comprara só para não frustrar José da comissão, que nem se importava com isso. Por ele, mostraria a loja inteira durante todo o dia e ainda faria hora extra só pra ficar perto dela.

José nunca soube o que trazia Veridiana com tanta frequência ao estabelecimento. Se era só para perder meio dia a comprar uma peça de roupa, se era para distrair o olhar pela loja, para contemplar o caminho, olhar o trânsito, ou para ver as horas no relógio da torre. Preferia pensar que ia lá só para vê-lo.