A MISTERIOSA VILA 10 - A FUGA DE BALTIMORE
Passamos a noite na pequena ilha num abrigo feito de palhas de coqueiros. Assim que amanheceu, caminhamos até a pequena enseada, coberta de sargaços que se grudaram à canoa encalhada entre a água e a areia grossa da praia.
Então avistei algo inacreditável e gritei:
- Minha traineira! O Gaivota, como é possível?
Pensei:
- Certamente, Asgard está nos ajudando.
Ainda desconfiado escondi Isabelle no abrigo, não queria correr riscos. Entrei na água e nadei calmamente até o Gaivota, me pendurei na escada e subi até o convés, depois de verificar que não havia nenhum perigo, lhe chamei.
- Isabelle, estamos seguros podemos ir.
Pressentindo que precisava deixar aquele lugar rapidamente, saímos em direção ao mar aberto. A tensão e o medo só aliviariam quando a costa desaparecesse. O medo e o deslumbre estavam entalhados no lindo rosto de Isabelle.
Navegamos em direção ao azul do oceano, seguindo o sol que se elevava no infinito. Aos poucos a costa foi ficando cada vez mais distante, até desaparecer completamente da nossa vista. Queria deixar aquilo tudo para trás, e nunca mais voltar. A presença de Isabelle deu um toque especial ao aconchegante Gaivota. O mar estava bem humorado e nos brindava com a presença constante de seus ilustres habitantes. Como boas vindas, uma grande família de golfinhos nos acompanhou ao entardecer, e quando o sol deitou-se no seu berço dourado, eles também desapareceram na imensidão das águas. Era à vez dos habitantes noturnos e dos caçadores vorazes. Logo, a noite chegou e com ela as estrelas cintilando e prateando o véu celestial, o vento forte sibilava no forte mastro do Gaivota.
Mas, na nossa fuga é possível que encontre outros viajantes trazendo noticias do mal. Assim seguimos por dias e noites. Porém, a nossa aparente tranquilidade, nos traiu com algo sinistro. De repente as águas começaram a se agitar como se estivessem em ebulição, e tudo ficou na penumbra. Ergue-se das profundezas uma criatura assustadora, esculpida pela própria água na forma de um cão. Seus uivos caliginosos se propagavam em todas as direções, seu corpo se contorcia num balé dessincronizado, seus olhos cinza reluzentes como jóias, me olharam como se quisessem que eu a libertasse daquela prisão.
O mal não me é estranho, mas quero poupar Isabelle disso. Peguei meu arpão e me prostrei no convés como um gladiador. Quem afinal era? Incertezas me invadiram!
Em meio a este cenário caótico, uma gargalhada em tom de zombaria e maldade ecoou sobre o deserto salgado. Aquele era o aviso de que nós ainda não estávamos livres do mal. Repentinamente, a tenebrosa criatura se virou e rumou em outra direção, talvez em busca de sua próxima vitima, ou talvez, fosse nos esperar em outro lugar. O Gaivota deixava para trás uma estrada de espumas voláteis, a sua chaminé azul desbotada, expelia um rolo de fumaça negra que se elevava e se perdia nas alturas embaçando a visão das estrelas. A maligna criatura, como uma sombra demoníaca entre os mortos, foi ficando pálida e submergiu nas profundezas da escuridão.
Então, avistei o vilarejo entre as montanhas, avancei para dentro da pequena baia do porto e atracamos, era a Islândia. Respirei aliviado. A noite passou rápido, na manhã seguinte acordamos bem cedo, cuidadosamente observei os arredores em busca de algum vestígio ou sinal da mortalha de medo que nos perseguiu, mas tudo estava calmo. Sem querer arriscar, achei prudente esperar um pouco mais. Num raro momento de descontração, na pequena mesa da cozinha, fizemos o desjejum, o forte café me renovou.
O sorriso de Isabelle me encanta, seus olhos e seu olhar, me trazem felicidade. Estou pensando em morar em Kikivo, em uma daquelas maravilhosas casinhas e ruas forradas com pedras coloridas. Com Isabelle ao meu lado construiremos uma linda família. Lá tenho alguns amigos, Arthur e Ariel, assim voltaremos a pescar bacalhau nas águas da Noruega.
Sairemos em alguns dias com os primeiros raios do sol.