A MISTERIOSA VILA 7 - SENTINDO A MORTE
Me despedi do velho e voltei para o Gaivota, precisava me recompor emocionalmente. Fiquei dentro do barco por horas pensando e flutuando entre devaneios.
Resolvi partir no dia seguinte.
Como não consegui conciliar o sono, decidi sair muito antes do despertar do dia. A lua ainda borrava as águas com o clarão prateado, que projetavam a sombras das aves dos poleiros oscilantes sobre o convés. Vesti meu desgastado sobretudo de couro, pendurei nos ombros meu alforje, e me lancei pela madrugada fria. Iria fazer o caminho que fiz quando deixei aquela Vila há algum tempo atrás. No inicio da caminhada fiquei apreensivo, as palavras do velho não saiam do meu subconsciente.
O que encontraria na Vila? Será que a moça dos olhos verdes ainda estaria lá? E se tivesse morrido como o velho pescador me dissera?
Não aceitava essa ideia, era algo inconcebível. Um turbilhão de pensamentos me acompanhava.
Acendi um cigarro, dei uma profunda tragada, segurei a fumaça por alguns segundos e segui em frente. A pequena aldeia ainda estava deserta, os únicos habitantes eram os sonolentos cães.
Segui pelo estreito caminho onde já havia passado em direção a Vila. Andei por horas sempre contemplando o vai e vem do feixe de luzes da lua, entre as folhas das frondosas árvores açoitadas pelo vento, sentia algo estranho nos silenciosos arredores.
Repentinamente, uma corrente gélida de ar passou por mim como se uma porta estivesse sido aberta, uma presença maligna voltou a me visitar novamente. Um cheiro de sangue ardeu em minhas narinas. Ouvi vozes, gritos e gemidos, era como se algo me cercasse, temi que aquilo nunca acabasse. As árvores aumentaram freneticamente seus balanços, misturando-se com o balé de luzes enlouquecendo o cenário. Alguns pássaros cairam mortos ao chão,os galhos se partiam e se lançavam distante. Foi então que vi a alguns metros a minha frente, aquela forma demoníaca, porém familiar, um cão de pelos negros.
Seus olhos cinzentos e opacos olhavam diretamente nos meus, um arrepio de terror me invadiu, meus músculos retesaram e me paralisaram, o coração acelerou, respirava descompassadamente. Comecei a ver imagens confusas materializando-se a minha frente. Porém, uma delas me chamou atenção, os olhos desumanos e empedernidos, eram do cabalístico animal que cruzou meu caminho no oceano.
Então tive certeza...era o maligno em forma de cão.
Uma força sobrenatural me prendia ao chão, um peso enorme me esmagava os ombros e o peito, o odor sanguíneo me induzia a uma vontade de vômito. Meus joelhos dobraram, debrucei-me sobre meu alforje. Desejei naquele momento ser menino, voltar a proteção da minha mãe. Tamanha era a força do meu corpo sobre a terra que desfaleci, a vista escureceu, não podia ver, nem ouvir mais nada, um silêncio abominável me envolveu. Será que estou morto? Aquele era o meu carma...não se foge do destino.