Quando Filipe pronunciou a sentença final, ordenando que Jacques de Molay e Geoffroy de Charney fossem queimados, nenhum dos seus conselheiros disse uma palavra em contrário. Nem Charles de Valois, que durante todo o processo havia se manifestado contra a dissolução da Ordem, por entender que essa ação era um atentado contra a própria Cavalaria, enquanto instituição, quebrou o silêncio daquele momento.
     Valois achava que tudo aquilo poderia prejudicar uma instituição que se tornara uma tradição em toda a Europa e já frequentava o ideário popular. Por isso sempre fora contra esse processo. Pois onde o povo buscava os seus heróis, os seus defensores, os seus paladinos?        Não era na Cavalaria? E a Igreja? Não havia ela coroado de láureas os defensores do Santo Sepulcro e concedido a aqueles cavaleiros o status de verdadeiros santos?
     Carlos de Valois era um cavaleiro, antes de tudo. Por ser cavaleiro, respeitava os templários como uma milícia de gente valente e nobre. Não foram poucas as vezes que lutara ao lado deles e conhecia o ardor com que eles combatiam.
      Mas quando as necessidades políticas falam mais alto, é conveniente que as vozes em contrário se calem, pois elas serão silenciadas de qualquer jeito. Charles de Valois sabia que seu irmão precisava suprimir a Ordem do Templo e que era a necessidade política que o empurrava à essa ação. Com isso, ele atingia dois objetivos ao mesmo tempo. Dava um golpe fatal no poder da Igreja e colocava a pedra fundamental no seu projeto de um estado nacional, eliminando a oposição do seu principal concorrente, que era o próprio Templo.
      É claro que também havia motivações pessoais nas intenções de Filipe. Uma delas era o ódio. Ele tanto odiava quanto temia os cavaleiros do manto branco. Odiava a arrogância daqueles homens que não obedeciam a ninguém e se encastelavam dentro do seu poder, como se fossem, eles mesmos, um estado dentro do Estado. E temia o poder militar e econômico da Ordem. Só na França dizia-se que o Templo seria capaz de colocar mais de dez mil homens numa frente de combate, se fosse preciso. Que formidável exército ele não seria se os templários começassem a se intrometer na política? Com os recursos que tinham isso seria, de fato, uma força de incalculáveis proporções.
       Ele mesmo, Filipe, o Belo, tentara controlar o Templo através da iniciação de um de seus filhos. Mas fora torpedeado em sua pretensão. O próprio Jacques de Molay dera uma “bola preta” no seu indicado, vetando a entrada de um dos príncipes para a Ordem. Ora, quem eram os templários para recusar o uso do manto branco com a cruz vermelha a um membro da família real? Filipe não os perdoara por isso. E havia aquelas informações de que os templários, além de gozar de um status político independente do poder secular, também haviam criado uma Igreja particular, que negava a própria fé que juraram defender e praticavam ritos e costumes ofensivos à moral e aos bons costumes do povo de Cristo.
     Filipe se julgava um grande defensor da fé. Não tinha ele apoiado a última tentativa dos cruzados para recuperar os domínios perdidos na Terra Santa? Sim. Havia até sugerido a formação de uma aliança militar com os mongóis do sultão Oljeitu para uma cruzada contra os muçulmanos. Mas as Ordens militares tornaram inútil essa aliança quando perderam as últimas fortalezas cristãs na Palestina. Sem essas bases, tornara-se imprudente uma nova cruzada. Assim, Filipe computava às ordens militares, especialmente a Ordem do Templo, também essa decepção. Eles haviam torpedeado um dos seus grandes sonhos, que era seguir os passos do seu avô, o rei São Luis, no comando de uma cruzada.
     Charles de Valois, o cavaleiro, sabia de tudo isso. Por isso não insistiu. Podia dar um passo para defender os seus velhos amigos de Cavalaria, mas se isso representasse perigo para si mesmo, não hesitaria em dar três para trás. Sabia que a Ordem do Templo jamais se reabilitaria e que o altivo grão-mestre e seus altos dignitários já estavam com o destino traçado. A figura do orgulhoso ancião, com suas longas barbas brancas bifurcadas, alto e forte ainda para os seus quase setenta anos, da última vez que o vira, passou de relance pela sua memória. Sacudiu a cabeça, como que para afastar a lembrança importuna e por fim, suspirou, deu de ombros e calou-se.
 
     Em algumas oportunidades o próprio de Molay tivera esperanças que tudo terminasse bem. Chegara a crer que o papa intercederia por ele, que sua folha de serviços seria reconhecida, que sua posição, afinal, significava alguma coisa, e ele, dada a sua proeminência, teria, um dia, os respeitos que se deve conceder a tão alta dignidade. Sim. Tinha até sonhado que os templários que haviam escapado poderiam ter organizado um plano de fuga, um complô, ou mesmo uma rebelião, enfim, qualquer coisa que pudesse vir em seu auxílio. Sabia que grande parte da Ordem havia sido salva. Muitos irmãos haviam escapado e tinham fugido para outros reinos. Na própria França, uma boa parte da organização estava sobrevivendo nas sombras. Tivera informação que a Compagnonnage, a poderosa confraria dos pedreiros livres, guilda patrocinada pelo Templo, tinha dado proteção aos irmãos pedreiros que trabalhavam para o Templo e que pretendia admitir, como “maçons aceitos”, aqueles irmãos. Assim, de certa forma, o Templo continuava sobrevivendo no seio de outras organizações.
     No entanto, quase sete anos haviam se passado desde a sua prisão e nada acontecera para aliviar a sua situação particular. Os templários, em todos os reinos cristãos, haviam sidos conduzidos como ovelhas para o matadouro. As poucas rebeliões ensaiadas foram esmagadas com a facilidade com que os soldados do rei reprimiam as brigas nas tavernas. O que acontecera com o poder do Templo? Por que soldados tão preparados, que haviam combatido com tanto fervor nos campos de batalha, haviam se entregado de forma tão covarde? Por que uma organização tão poderosa deixava se destruir sem luta?
     Nesses últimos dias de prisão Jacques de Molay especulara muito sobre isso. De fato, chegara à conclusão que a Ordem que ele presidia havia perdido a sua razão de existir para a Igreja e para os objetivos que ela buscava. Fora fundada e preparada para combater os inimigos da fé cristã. Sua função era conquistar e preservar territórios para a Cristandade. Devia defender a Igreja de Cristo contra todos aqueles que queriam destruí-la. Mas o reino de Cristo, o reino de Deus na terra ─ que essa Igreja pretendia representar ─ revelara-se uma farsa cruel e monstruosa. O grão-mestre do Templo não acreditava mais nisso. Nenhum verdadeiro templário acreditava mais nisso.
    Todas as possessões cristãs na Terra Santa estavam perdidas. E com a prisão dos seus líderes e a dissolução da Ordem, a possibilidade um reino governado pelo Templo, em terras da Cristandade, também já não era mais possível. Era difícil de reconhecer, mas de Molay agora tinha certeza de que foram os privilégios abusivos concedidos à Ordem que a fizera perder o rumo e achar que poderia existir independente do poder de Roma e livre da influência do poder secular, vivendo de acordo com suas próprias crenças e professando sua própria religião .
      Desde o início eles haviam despertado ciúme, inveja e rancor por parte das autoridades eclesiásticas e seculares em razão da proeminência que adquiriram nos reinos cristãos. Isso lhes dera direito ao sonho de construir, eles mesmos, o reino de Deus sobre a terra; o reino da consciência, da justiça e da tolerância, governado por uma Ordem de cavaleiros perfeitos, cheios de zelo e lealdade à verdadeira fé, não a fé contaminada pela cobiça e pela mentira de uma Igreja usurpadora, que se apossara dos espíritos das pessoas para escravizá-las aos seus próprios interesses.
      O reino de Deus sobre a terra. O verdadeiro reino do Messias. O reino com que Jesus sonhara. A utopia que São Bernardo de Clairvaux descrevera nos estatutos que redigira para a Ordem. A Ordem dos Cavaleiros Kadosh, os santos guerreiros. Agora eles estavam sendo chamados de monges malditos...
     Desde o fim das cruzadas os Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão não eram mais uma Ordem de Cavalaria, nem sequer uma Ordem monástica. Tinha se transformado em braços da burocracia estatal. O próprio de Molay era um membro da pequena nobreza, iletrado e ignorante como a maioria dos seus pares, mas não era ingênuo. Subira na hierarquia da Ordem graças à sua firmeza de caráter e a sua inabalável devoção aos estatutos que jurara cumprir. Chegara ao mais alto posto da organização, um posto desejado por grandes patentes da nobreza e até por reis. Comandara um exército maior do que aquele que qualquer rei, na Cristandade, poderia reunir. Tivera sob seu estandarte mais de dez mil combatentes, entre cavaleiros, sargentos e turco-polos. Um exército como esse nenhuma nação, no mundo cristão, possuia. Além disso, administrava uma fortuna que superava, de longe, a de qualquer monarca da terra. Mas agora, estava ali, com todos os seus sonhos desmentidos, as suas crenças desafiadas, os seus planos destruídos. Nada mais importava. Nem o sonho do estado próprio, nem a face esotérica da Ordem, os segredos explosivos que compartilhava com os irmãos do Círculo Interno Superior, o poder que pensava ter nas mãos. Tudo isso parecia agora um punhado de areia que escoava de suas mãos como se elas fossem ampulhetas, que ali foram postas para lembrá-lo que o momento terrível se aproximava.
     A vida lhe parecia agora uma aventura sem sentido. As crenças, a fé, os motivos pelos quais se vive e morre tornam-se vazios na presença inexorável da morte, quando não se vê o sonho realizado.
Jesus também não teria morrido em vão? Não seria essa a razão da sua queixa, na cruz, quando perguntou a Deus porque o havia abandonado? Que mundo era esse que ele legara aos homens? A guerra, a fome, a peste, a escravidão, o domínio do mais fraco pelo mais forte, a cobiça e a ambição a nortear as decisões humanas, tudo isso não continuava igual? Ou até pior, de alguma forma?
      Jesus destruíra sim, o Templo de Jerusalém, ao substituir o poder dos sacerdotes judeus pelos poderes de uma nova casta de sacerdotes, que eram os padres de Roma. Com isso ele, de fato, como prometera, também reconstruíra o novo Templo (o Cristianismo) nos três dias que ficou na tumba. Mas essa reconstrução se fundamentara em uma mentira, pois fora baseada na lenda da ressurreição. Essa lenda sustentava todo o edifício cristão.
     Seriam os novos sacerdotes do Templo que Jesus construiu, mais dignos do que os fariseus e saduceus que o condenaram?  Jacques de Molay sacudiu a cabeça para afastar dela todas essas especulações importunas. Deu-se conta que estivera a ponto, ele mesmo, de repetir a experiência de Jesus. Se revelasse tudo que sabia, se mostrasse ao mundo os segredos que os templários tinham retido todo esse tempo, não seria ele o responsável por uma nova destruição do Templo? Sim, o templo do Cristianismo, ou pelo menos, o Templo que se erguera sobre as colunas Pedro e Paulo, por cima das ruínas daquele que fora, outrora, o Templo de Salomão, sustentado pelas colunas Boaz e Jakin.     
      O novo Templo, que agora tinha sua sede em Roma, embora no momento estivesse com sua corte em Avignon, poderia ruir irremediavelmente. “Tudo se repete, sempre igual, apenas os nomes mudam”, concluiu, suspirando, Jacques de Molay.

     Os pensamentos se sobrepunham uns aos outros e o exaurido grão-mestre dos templários pensou que talvez estivesse ficando louco. Sua cabeça doía. Caiu sob a enxerga de pedra fria que lhe servia de cama e pela primeira vez na vida sentiu duas lágrimas quentes rolarem pelas faces encovadas e se perderem no cipoal da barba desgrenhada.
Sim. Talvez fosse a loucura chegando. O desvario, a perda da razão frente a tantos infaustos acontecimentos que ele não conseguia entender como acontecera nem pudera evitar. Já percebera que depois de sete anos de encarceramento, a razão lhe fugia a intervalos. Esquecia-se de quem era e depois, quando a memória lhe voltava, precisava dizer a si mesmo que ele era Jacques de Molay, o grão-mestre da Ordem do Templo. E sempre que seguia essa pista dentro dos escombros em que se transformara sua mente, o que sobrava, depois dessas viagens, era o ódio. O ódio, feroz, terrível, dilacerante, por quem fizera aquilo com ele e com seus irmãos de Ordem.
      Quando se acalmava procurava na mente os momentos de glória em sua vida. Lembrava-se o quanto ficara feliz e orgulhoso ao receber aquele manto branco com a cruz vermelha no peito. Como se sentira forte e viril cavalgando o seu branco corcel pelos areais sem fim da Terra Santa. Tremeu, ouvindo, ao longe, o grito de guerra dos seus comandados, em carga pesada contra os inimigos da fé: ─ Montjoie! Beauseant! Deus o quer! Respirou fundo, como se de fato estivesse, de novo, inalando a brisa marinha no convés de uma escuna templária, singrando os mares de um azul obsessivo e infinito. Ouviu o fragor das espadas em choque, no calor das grandes batalhas, reviu as máquinas de guerra despejando bombardas sobre as muralhas de cidades que pareciam inexpugnáveis; contemplou, na tela da mente, os grandes castelos, as cidades conquistadas, o convívio com reis, papas, os barões assinalados.
      Agora tudo acabara. Seu único convívio era com os ratos que infestavam sua cela em busca das migalhas do pão salitroso que lhe serviam. No seu desvario chegara a dar nomes e títulos aos roedores: ─ Salve Lorde Jean de Finnes, nobre Barão de Ringry e Ruminghen; Sois bemvindo, Cardeal Latille, bispo de Challons; Saudações, Condessa Jeanne de Borgonha, mui nobre esposa do menos nobre príncipe Filipe ─ murmurava, fazendo mesuras aos ratos, como se estivesse num baile na Corte.
     Às vezes levantava-se e andava pela cela, dando tantos passos quanto as correntes que prendiam seus tornozelos permitiam. Começara, desde que fora trazido para aquela cela, a rabiscar um desesperado calendário nas paredes salitrosas, marcando com um risco, feito com um anel da corrente, cada dia que passava ali. Mas ha tempos perdera a conta e abandonara o trabalho. Ao invés de contar os dias passara a rabiscar na parede incompreensíveis desenhos geométricos que se assemelhavam a mandalas. Não tinha plena consciência do que significavam, mas sentia necessidade de fazer aqueles rabiscos. E também outros desenhos. Uma cruz dentro de um círculo. Um esboço de minarete. Traços vagos e quase infantis de dois homens sobre um só cavalo... Eles o acalmavam. 
Ele, o homem que tivera um reino em suas mãos, agora estava ali,
naquela masmorra, apodrecendo em vida, esperando, esperando, sem saber se o dia que nascia seria o último de uma existência que fora elevada a tão prodigiosas alturas e agora era atirada nas mais abjetas profundezas. Se alguém sabia o que era, realmente, o céu e o inferno, era ele, Jacques de Molay, quem os visitara, e não aquele poeta florentino, que segundo ele ouvira dizer nos frívolos serões que fora obrigado a frequentar nos palácios da nobreza, escrevera um longo poema que descrevia a geografia desses locais onde as almas nobres e perversas passavam a eternidade, purgando os pecados que cometeram nesta vida ou recebendo o prêmio pelas virtudes desenvolvidas.
      Tinha sido torturado e humilhado de todas as formas. Como Jesus o fora. Até fora crucificado como ele, “para sentir todas as dores que Nosso Senhor sentira”, dissera o padre que dirigia a tortura. Assim, ele que negava a divindade de Cristo, que cuspia e urinava na sua imagem, que adorava demônios ao invés do Filho de Deus, tinha que ser crucificado para sentir o quanto Jesus sofrera para oferecer à humanidade pecadora uma esperança de redenção. Esperança que ele e seus promíscuos irmãos desdenhavam em sua heresia, segundo diziam seus acusadores.
     Isso foi o que os torturadores disseram a ele quando o pregaram naquelas duas vigas cruzadas, para que sofresse como Jesus sofreu. Mas para ele, Jacques de Molay, sofrer como Jesus sofrera, não era tortura, era a suprema glória. E seus algozes, como aqueles que mutilaram Jesus, não sabiam o que estavam fazendo, pois se soubessem não teriam cravado suas mãos e pés naquelas pranchas, nem cingido sua cabeça com uma coroa de cipó espinhoso; e depois, vendo que ele havia desmaiado com as dores que lhe infringiram, tirado seu corpo da improvisada cruz, cobrindo-o com aquela mortalha de linho.
     Essa tinha sido a mais cruel das torturas que ele havia sofrido, mas estranhamente, era a única cuja recordação que não odiava. Olhava para as marcas dos cravos na palma das mãos e no dorso dos pés. Embora os ferimentos já houvessem cicatrizado, ainda doíam quando ele pisava no chão ou pegava forte em alguma coisa. E ele se lembrava bem das marcas que seu corpo ferido deixara no lençol. A imagem do seu corpo mutilado ficara gravado nele como se um pintor o tivesse desenhado com os fluídos que saiam das suas feridas. Gostaria de ter conservado para si aquela mortalha como prova da crueldade dos seus algozes, mas o monge que veio pensar suas feridas, vendo o desenho do corpo dele estampado no pano, a nitidez do rosto impresso naquele sudário, mais que depressa o guardou para si, com a expressão de quem tinha visto uma assombração, ou então, descoberto um tesouro. “Esses malditos”, pensou de Molay, “não querem deixar provas da sua impiedade.”
 
       Jacques de Molay cochilava quando ouviu os passos dos soldados que se dirigiam para a porta da sua cela. Sabia serem soldados por causa do barulho das botas ferradas que ressoavam nas pedras do piso do calabouço onde ele estava acorrentado e pelo ritmo marcial desses passos, que contrastavam com o passo lerdo e displicente do gordo carcereiro que vinha lhe trazer a magra ração do dia, que consistia, normalmente, de pouco mais que pão e água. O andar do carcereiro era silencioso como o de um rato, enquanto o dos soldados era pesado como os de um cavalo.
       O rangido dos gonzos da velha porta despertou-o de vez. Sentou-se na enxerga que lhe servia de cama, – único móvel existente na cela – esfregando os olhos, ainda mal acostumados com a luz do archote, brilhando nas mãos gordurentas do carcereiro que precedia a entrada dos soldados. Atrás dele vinha o preboste de Paris, acompanhado por quatro soldados, com seus piques na mão, prontos para serem usados. O carcereiro tirou de uma sacola na cintura um martelo e um buril e com a maestria de quem fez aquilo a vida inteira, soltou, em questão de segundos, o resistente rebite das argolas que prendiam os tornozelos do prisioneiro às grossas correntes de ferro, chumbadas na parede da cela. O prisioneiro saudou, com um suspiro de alívio, aquele momento de liberdade. Friccionou as mãos ossudas contra os tornozelos magoados pelas argolas e levantou-se com dolorosa lentidão. 
      – Vinde conosco, monsenhor de Molay, – comandou o preboste, sem nenhuma emoção na voz.
      Jacques de Molay olhou para todos os cantos da sua cela. Seria a última vez que a veria? O que haviam decidido fazer com ele? Definitivamente estava cansado daquilo tudo. Quantas e quantas vezes, naqueles terríveis últimos sete anos, se repetira aquela cena, de um carcereiro rompendo os rebites das correntes para levá-lo para um interrogatório frente a uma comissão? E depois voltava ele, novamente, para ser atado à outras correntes. Quando terminaria esse suplício?
(...)
(do livro Templários- Os monges malditos) no prelo.