MEU PRIMEIRO FANTASMA
MEU PRIMEIRO FANTASMA
Era uma noite como outra qualquer, não estava nem quente nem frio. Poderia dizer que estava agradável. Eu fui com meus pais e meus irmãos à casa de alguém. Não me lembro se era algum conhecido ou não. Eu devia ter por volta de onze anos na época. Meu pai tinha uma fusca, essa era nossa condução, um luxo que poucos tinham. O que não vem ao caso. Quando meu pai contornou a igreja e começou a descer em uma das ruas laterais do cemitério central, meu coração disparou, dava pra eu ter a visão do final dela, não tinha a mesma quantidade de casas que tem hoje, sem contar que era pouco iluminada. Quando meus olhos viram, tenho certeza, era um fantasma todo branco a abanar suas mãos para mim. Os olhos dele eram como faróis vermelhos a piscar lá no meio de um pasto. Quanto mais meu pai se aproximava, mas eu me arrepiava. Como sabia rezar, pois desde pequena aprendi com minha avó, não titubeei tracei o sinal da cruz e rezei o credo. Mesmo assim o fantasma não parava de me olhar. Não gritei para não assustar minha família, mas senti meu coração disparar, acelerando cada vez mais rápido. Minhas mão suavam. Tentei mostrar para meus irmãos, mas eles riam. Tudo bem, aguentei firme a pequena trajetória. Daqui a pouco chegaria ao destino. Paramos bem de frente para esse pasto. Qual foi minha surpresa ao chegar lá. Haviam vários lençóis brancos pendurados numa espécie de cerca que separava o fim da rua com o pasto. E lá mais adiante tinha uma casinha que dava para ver perfeitamente que se sustentava com um fogão a lenha e uma lamparina. Não foi difícil deduzir que “meu fantasma” era a projeção da luz do fogo sobre os lençóis. Ah como me senti aliviada naquele momento. Ousei até ir mais perto dos lençóis. Percebi que o medo havia dissipado por completo. Pude relaxar e me senti uma tola perto de meus irmãos. Meus pais não demoraram muito, a prosa era pouca mesmo. Meu pai não era homem de muitas palavras, o necessário era suficiente. Saímos dali, eu despreocupada e serena. O carro começando seu retorno para casa. Ainda me aventurei a olhar para trás e me certificar que tudo não passava da minha fértil imaginação. Mas qual nada foi minha surpresa: ele estava lá e dessa vez rodeava a casinha e mexia com os braços, como a me dizer adeus. Seus olhos dessa vez eram muito claros e pude ver que sua boca era larga de onde saia um fogo azulado. Voltei a rezar, meu coração disparado, queria só chegar em casa e esquecer aquela noite. Não me lembro se tinha lua. Também não faria a menor diferença, porque apenas eu havia visto o fantasma. Foi o primeiro de muitos, mas fui me acostumando com eles, nunca me fizeram mal algum.