A MISTERIOSA VILA 3 - ASGARD A PROMESSA

Me ofereci para acompanhá-lo, primeiro ele hesitou, mas aceitou minha companhia.

Sob as sombras da noite desembarcamos da Traineira, coloquei meu velho casaco de couro, calcei as luvas e fomos até o grande galpão próximo ao estaleiro onde nos aguardava uma velha carruagem. Os animais tinham seus pelos molhados pelo orvalho noturno, ambos cochilavam placidamente, junto ao cocheiro.

Asgard colocou um machado sob seu grande casaco negro de couro e uma adaga na cintura. Olhou-me discretamente pelo canto dos olhos, se acomodou no assento do condutor e iniciamos a jornada. Seguimos pelas encostas rochosas em toda extensão das praias abaixo, depois cruzamos um estreito cânion de pedra e paredes verticais. Mal sabia eu, a grande surpresa que cruzaria nosso caminho.

Sem a companhia da lua entre os paredões a escuridão se acentuava, o tropel dos cascos e a respiração forte dos cavalos aguçava nossos ouvidos. Ao entrarmos no desfiladeiro de pedras, tive uma sensação estranha que algo nos acompanhava, um pressentimento. O lampião do cocheiro era igual aos lampiões de pesca, mal conseguia nosso caminho, quem nos guiava eram os olhos dos cavalos.

De repente os animais se assustam, e param abruptamente quase me jogando ao chão. Quando o fraco facho de luz clareou a frente, percebi grandes silhuetas negras e pares de olhos vermelhos brilhando na escuridão. Um arrepio de terror me invadiu todo o corpo, fiquei paralisado, havia algo tenebroso ali a minha frente. Lembrei-me aterrorizante episodio da vila, meu couro cabeludo eriçou arrepiado.

Segurei com força ao corrimão da carruagem. Ao meu lado, Asgard de pé com o machado em uma mão, e com a outra dominava os cavalos prestes a debandar. Ele pronunciou palavras ininteligíveis, meu terror aumentava, e quando algumas dessas criaturas se aproximaram, um cheiro de ira e desespero encheu o ar. Pouco depois ouvimos um barulho ensurdecedor, um grito arrepiante brotou das profundezas do vale. Nesse instante, ele disse algo que não compreendi, e completou.

- Deus me ajude.

Envoltos e a mercê daquela tenebrosa multidão acordadas do seu sono sepulcral, sentíamos o hálito fétido das suas respirações agitadas. Confesso que meu coração estava na ponta da língua. O tempo congelou, parecia uma foto em preto e branco.

Suas cabeças eram grandes e ameaçadoras, os cavalos presos ao vergalhão da carruagem, estremeciam e relinchavam baixinho, como se entendessem aquela situação. Finalmente, as enormes sobras negras se movimentavam em todas as direções e esmaeceram lentamente na escuridão do vale. Trêmulo, respirei fundo, e não ousei fazer nenhuma pergunta. Asgard desceu da carruagem, deu alguns passos e parou, me olhou diretamente nos olhos e disse;

- Volte sem olhar para trás.

Entre as sombras dos paredões do vale ele desapareceu. Incrédulo, retornei ao porto imediatamente. Logo após o desembarque do pescado, soltei as amarras e naveguei em direção ao mar aberto, sem dar uma palavra.

Meu destino agora são as ilhas Foroé.