Asmodeus - dias de tranquilidade 1
Matias sentara num banco de praça enquanto observava o movimento da cidadezinha que morava há algumas semanas. Sem emprego, sem família por perto, sem perspectivas, o rapaz pensara vezes e vezes em tirar a própria vida. Nada fazia sentido.
A falência de seu pequeno negócio, o rompimento com sua noiva, a morte do seu cão. O ano não estava indo bem para ele. Por isso resolveu viajar. Apontou no mapa aonde seria sua nova casa, talvez um recomeço o faria recuperar a confiança em algum futuro.
O jovem rapaz sabia lá no fundo que a vida tinha altos e baixos, o que contrariava a lógica, os estudos a que se submeteu durante anos. No fundo mais profundo sabia que a vida era uma maratona sem causa
aparente. Apenas um ir para algum lugar.
Inquieto, Matias deixava sua imaginação o levar para sonhos acordados bizarros. Seres, formas, histórias, ele vagava pelos universos misteriosos da própria mente. Escapar da realidade o confortava.
De longe ele sorria discretamente quando via uma criancinha que fazia algum gracejo enquanto ia ou voltava da escola. Via o cuidado maternal, familiar, que as mulheres davam às suas criancinhas. Apesar das dores psicológicas, a pequena cidade esquecida no meio do vale o tranquilizava. Será que ali ele viveria algo novo?
Depois da hora de descanso na praça, Matias ia até a padaria para comprar seu novo doce favorito, cuca, e alguns pães. Por ser um sujeito metódico, o jovem já havia preparado o almoço, algum ensopado ou coisa similar.
Em casa, Matias ouvia músicas velhas, gostava de deixar uma lista de músicas bregas afinadas em seu celular. Ele adormeceria naquela tarde ouvindo as mesmas músicas que seus pais, sonharia com um futuro incerto.
No entanto, quando finalmente relaxara a cabeça no travesseiro, as janelas do quarto deixaram passar um brilho branco-dourado tão intenso que, a princípio, Matias pensou que fosse alguma comemoração daquele interiorzinho. Engano.
Naquela tarde ele dormiu, e o mundo também.