O Prólogo da Loucura II
Terceira parte da trilogia "Prólogo da Loucura"
....Nos prólogos anteriores, encantei-me por uma simples fantasia, até começar a entender o porquê de fingir, acreditando constantemente nas mentiras que invento, é fácil confessar hoje, que até nas trevas nada aquilo aconteceu, pelo menos nunca foi daquele jeito. Também sei que não existe um amor perfeito, ela já se esqueceu de mim. Inclusive a amargura de perdê-la hoje é maior que a felicidade de amar, os sentimentos da alma continuam, mas já não sei se ainda tenho um coração e se esse ainda existir, provavelmente já não me pertence!
Não havia percebido, mas aí está você, em algum lugar qualquer, sentado se pondo a ler esse trabalho. Lamento a decepção, isso não é necessariamente um texto, essa é uma ação personificada de uma prisão e você agora está aprisionado, no interior de minha consciência infame, nesse que, há tempos, não se resume a um simples momento, na verdade um conjunto de leves e intensas sensações. Agora já não tenho a impressão súbita de estar só, cercado pelas letras impressas desse causo, que demonstra a total compreensão antes incompreensível desse mero traço.
No interior desse conjunto de noções, veja centrada a figura de um homem, que finalmente se vê a sentir a provável emoção de estar sendo compreendido, em todos os aspectos que luta para transmitir. A narrativa começa com a noite, que insiste em chegar, com ela a chuva a cair, é dentro desse céu nebuloso que a procuro. Para onde será que foi? Está tão escuro aqui, nunca aprenderei a viver com essa solidão. Como desejo sentir o árduo calor de seu corpo frio, ouvir sua alma sem vida a sussurrar o meu nome. Trazer de volta dos suplícios do inferno, a luz que já não jorra dos membros seus, vê-la a preparar o doce veneno que mata lentamente a ambos. Enquanto degusto com volúpia a taça em que ela me oferece a morte, peço apenas que venha depressa e me excite mulher morta!
E assim muitas foram essas noites, até chegarem às tardes de sol a pino. Recordo até com certa angústia, os tempos que passei a me guiar pelas trevas, sozinho e perdido a padecer sob tantos labirintos escuros. Até descobrir que em meu ser está o real motivo da causa e consequentemente da própria saída de tudo. Restou esperar apenas o nascer de uma força, materializada através de uma coragem determinante, que me leva a cavar como um túnel, esse imenso e ardoroso caminho de volta.
Nesse retorno, vejo que meu perfil agora é traçado de um modo diferente, hora se resumi a uma pequena gota de luz, coberto por uma estrela que cai dentro de uma fagulha tão só. No sangue, ainda circula por minhas veias a maldade de um homem, dessa vez sendo bombeado pelo coração de uma criança. Já não sou nada mais do que queria ser, como um breve pulsar, um antigo silêncio que carrega a idade do universo. Não indo além também de um punhado de mar, a maior mentira de Deus, apenas um grão de sal, nessa imensidão azul que é o céu.
Preso nessa estrada sem saída, eternamente a procura de um tempo perdido dentro de mim. E ensinando que o amor, é como um demônio, que inspira nas pessoas o medo e também a coragem, girando sem parar como verso e reverso, porque por traz do ilusório sentimento de medo é que se acende a chama da coragem, desse amor que um dia veio a rebelar-se dentro de mim e enfim liberto, ainda é poderoso por sua fragilidade abstrata e terrível pela pureza natural de sua loucura.