Ravenala nunca intentou contato com os mortos usando o   psicoteledecodificador.  Ela desejava muito falar com o  ex-professor de Português, porém, o contato entre vivos e mortos só é possível se houver aquiescência de ambas as partes e o padre Davi jamais daria a mão à palmatória. Jamais concordaria que isso fosse  possível, ainda  no de 2057.
— Esqueceste de anunciar o principal.
 —O quê?
 — Mesmo que as partes estejam acordes em se comunicarem, é preciso que haja permissão de Deus.
—  Não é necessário dizer isso... Nada acontece sem a permissão de Deus.
A aproximação de uma gaivota interrompeu o discurso sobre o contato com os mortos.
— Veja Ravinha, uma linda gaivota pousou no capelo do navio!
— Nunca tinha visto uma gaivota tão bonita. É diferente de todas as demais. Reluzente...O branco e preto das penas lembra as vestes de uma freira.
— São os mimos de Deus.

***
Adalberto Lima, "Estrada sem fim..."