Tarde de Sol

Lutar. Por muito tempo ouvi vozes a me dizer para lutar, e eu me pergunto: “lutar pelo que?”. Por monstros internos que tentam me destruir? Por um inimigo maior que posso chamar de mim mesmo? Talvez Sim.

Minha luta diária é no desejo de um reencontro. Busco reencontrar um jovem rapaz chamado Douglas Almeida. Eu vou explicar o por quê.

Eu me lembro daquele dia, do seu lindo sorriso de tanta felicidade. Era uma tarde no parque e Douglas comprava sorvete, sua namorada estava o esperando encostada em sua moto, ela mexia em seu celular enquanto o esperava com o seu sorvete preferido, chocolate.

Enquanto isso, ao longe vinha um rapaz correndo, e em suas mãos, algo que parecia ser uma bolsa e uma arma em outra mão. Ele corria muito e antes que alguém o notasse, ele virou para trás e deu alguns tiros em direção a dois policiais que vinham logo ao fundo, estes se esconderam atrás de uma mureta que ficava próxima a sorveteria, quando Douglas virou pra ver o que era aquilo, o rapaz passou por ele correndo, ele olhou para o rapaz correndo e pôde vê-lo sendo perfurado em suas costas nuas por algumas balas vindas das armas do policial. O rapaz no intuito de revidar virou rapidamente e deu alguns tiros, mas caiu depois e ali mesmo ficou.

Douglas tremendo, deixou cair os sorvetes quando olhou sua moto e a viu sem ninguém.

Cadê a Raquel?!

Tentou correr em direção a moto, mas logo caiu no chão, quis ainda levantar, e não conseguiu. Havia algo errado, olhou para seu corpo e notou que suas pernas estavam lavadas de sangue, sangue que ele nem sentiu. Sentiu medo, e olhou pros lados, viu em pé próximo a ele um dos policiais, o outro estava logo atrás. Douglas tentou falar mas, sua voz não saiu. Ouviu então o policial informando no telefone que havia uma pessoa ferida e duas mortas.

Mortas?!

O coração de Douglas gelou e ele apagou.

***************

Querem saber o que aconteceu?

Bom, Raquel estava caída atrás da moto. Ela havia recebido um tiro que atingiu o seu pescoço, perfurando a Aorta, fazendo-a sangrar agonizando até a morte. Douglas também tomou um tiro, acertando sua coluna, também o matando.

Eu vi tudo isso, e sabe o que eu fiz?

Nada! Não pude fazer nada.

Talvez você me pergunte, “porque você não fez nada?”, ou melhor, talvez você pergunte, “e afinal, quem é você?” ou até ainda, “porque você busca reencontrar o jovem Douglas, ele não morreu?”.

Bom, Douglas morreu naquele dia, infelizmente.

E eu? Eu sou um velho triste e covarde, que talvez pudesse ter feito algo, mas não fiz. A verdade é que eu perdi tudo, perdi meu grande amor e perdi o movimento de minhas pernas.

“Ah então você é o Douglas?”. Não. Douglas morreu, eu sou apenas o que restou daquele jovem sorridente naquela tarde de sol.

Gilberlan Santos
Enviado por Gilberlan Santos em 17/03/2018
Reeditado em 17/03/2018
Código do texto: T6282976
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