A máquina de escrever
Há dias estava sem inspiração. Apática para escrever, enquanto uma história gritava dentro dela para sair. Sentava-se a frente do computador e começava: “Maria...não, Joana”. Deletava! Não encontrava um nome para sua personagem. Ficava chateada e desistia. Talvez, se não apagasse tudo que começasse, teria de onde continuar depois.
Saiu à procura de uma máquina de escrever. A solução perfeita! Até sentia as ideias fervilhando só de pensar em usá-la. Logo encontrou a loja de antiguidades que procurava, pois passava por ela e nunca entrava. A faixada da loja eram vitrines cobertas por cortinas pretas com barrados dourados, ou eram, antes de desfiarem. Ao entrar, não viu ninguém para atendê-la. Um espaço pequeno, pouco iluminado, quinquilharias espalhadas por toda parte e empoeiradas.
Não viu o que buscava. Foi até um surrado balcão com uma campainha. Levou a mão para tocá-la e de repente um senhor ergueu-se por detrás dele. A mão que tocaria a campainha agora tocava o coração batendo a mil por hora. Ela pensou: “agora ele vai fazer uma cara feia e algo vai acontecer como nos filmes de terror!”
Para sua surpresa, o velhote apoiou seus braços no balcão, abriu um largo sorriso, quase sem dentes, e disse:
“Bom dia, senhora! Me desculpe se a assustei. Me abaixei para pegar a agulha do toca disco”. Ele estendeu a mão para cumprimentá-la e assim que a tocou, notou que havia se furado. Seu sangue grosso escorria nos dedos enrugados.
“O senhor está bem?”
“Não foi nada. Nem percebi. Me desculpe novamente, senhora. Sujei sua mão!”
O simpático comerciante arrancou um lenço do bolso para que ela se limpasse e perguntou o que ela procurava.
“Gostaria de uma máquina de escrever, o senhor tem?”
O semblante dele iluminou-se. Foi até um baú de madeira, abriu a tampa e a poeira o fez espirrar. Tirou de dentro o que ela desejava, colocou em cima do balcão avisando:
“Esta máquina é muito especial. Era de um velho amigo contador de grandes histórias. Ele a chamava de máquina do tempo, ou dos sonhos, não me lembro. Ficou exposta por anos e ninguém a quis, então guardei”.
Por um instante, ficou desapontada com a aparência da máquina. Estava descascando e com manchas de ferrugem. Pediu para testar se funcionava e o senhor lhe deu um pedaço de papel. Ajustou perfeitamente, sem nenhum rangido. As teclas eram macias e o barulho que fazia durante a frase que escreveu a arrepiou. Tirou o papel e guardou na bolsa.
“Ficarei com ela!”
Ambos satisfeitos, o velho foi buscar a caixa da máquina. Entrou na loja uma mulher alta, loira de olhos cor de mel, vestida de vermelho. Aproximou-se do balcão dizendo:
“Bom dia! Me chamo Joana. Você trabalha aqui?”
O velho voltou com a encomenda e notou que sua cliente estava confusa lendo o pedaço de papel que acabara de escrever: “Joana tinha lindos olhos cor de mel e seus cabelos amarelos contrastavam o tecido vermelho do vestido”.
Obs: continua...