O estranho
Todo final de tarde, Larissa saía para correr. Colocava seu fone de ouvido e se isolava do mundo. Gostava de voltar para casa antes de anoitecer, mas estava tão entregue a seus pensamentos que perdeu a noção do tempo. Deu meia volta em uma rua pouco movimentada e quase sem iluminação. Acabou a bateria do celular e só ouvia o som dos próprios passos no asfalto. A sensação de estar sendo observada começou a lhe incomodar e ela toda hora olhava para trás.
Sentiu um pouco de falta de ar, então parou, alongou as pernas e apoiou as mãos nos joelhos. Respirou fundo de olhos fechados até sentir a calma que precisava. Sorriu de canto de boca, levantou os braços e abriu os olhos.
Havia um homem parado à sua frente a encarando como se tentasse entender o que ela estava fazendo. Larissa disse boa noite a ele, na tentativa de descontrair a situação, mas ele só pendeu o pescoço para o lado, esticou as mãos dando a ela um objeto que não dava para ver o que era.
Larissa sentiu cada pêlo do seu corpo eriçar! Deu um passo a frente e o homem continuou imóvel. Ela deu mais um passo e correu sem olhar para trás por trezentos metros, porém, queria ter certeza de que o estranho não a estava seguindo. Suas pernas tremiam. Olhou e não tinha ninguém além dela na rua.
Chegou em casa, apressadamente, e se trancou lá dentro. Pegou um copo d’àgua sentindo cada gole arranhar o céu da boca, tentando entender o que poderia ter sido aquilo. Seu cachorro, um pastor alemão, que sempre pulava nela quando chegava, se aproximou entristecido buscando encostar a cabeça em seu colo.
“O que foi, Brad? Vem aqui, bichinho. Onde está sua coleira, hein?” Disse ela com voz doce ao seu único companheiro de casa. Brad não reagia aos carinhos, seu olhar estava sem brilho e sem nem ao menos abanar o rabo, ele saiu de perto dela.
Larissa ficou preocupada com o comportamento do cão, mas precisava de um banho para relaxar. Ligou o chuveiro e deixou que a água quente caísse sobre seus cabelos e levasse toda a tensão que passara. Por mais que evitasse lembrar daquele homem assustador, a imagem daquelas mãos lhe oferecendo algo não sumia.
Vestiu-se e foi procurar por Brad. Vasculhou a casa toda e nada do cão.
“Por onde ele teria saído se tranquei tudo?” Pensou. Se lembrou que tinha deixado ele para fora antes de sair para correr e não o viu entrar quando chegou. Abriu a porta dos fundos chamando Brad. Ele não vinha. Acendeu a luz de fora e lá estava ele, deitado no chão, imóvel. Larissa abaixou-se para vê-lo e caiu sentada! Brad estava morto! Parecia estrangulamento e a boca do animal cheia de sangue.
Após chorar muito, Larissa chamou a polícia, pois não encontrou nenhum outro animal ferido no quintal e não fazia sentido o sangue no cachorro. Ele não tinha nenhum ferimento além de marcas no pescoço.
O policial ao ver Brad, desconfiou de que alguém tentou invadir, mas o cão não deixou. Checou toda a casa e nada. Foi ao fundo do quintal com uma lanterna e notou marcas de pés e mãos no muro: “Senhora, tem uma escada ou um banco que eu possa subir?”
Larissa levou uma banqueta até o policial que ao iluminar no terreno baldio do outro lado do muro, disse:
“Não se assuste, tem um homem ferido aqui. Vou chamar a ambulância.”
O policial deu a volta na quadra para entrar onde estava o homem. Larissa, com muita raiva, foi atrás para ver de perto quem havia matado seu cachorro. Ficou parada à beira do meio fio, onde pediram pra ela esperar. Estavam demorando muito para tirar o homem de lá. Ela viu um dos socorristas balançando a cabeça negativamente. No impulso, Larissa foi até eles perguntando:
“Ele está morto? Quem ele é?”
O policial vendo sua aflição, focou no rosto do homem com a lanterna:
“Você o conhece?”
Larissa respondeu com espanto:
“Só o vi uma vez. Hoje, quando fui correr, ele parou em minha frente segurando...espera, ilumine a mão dele!”
Para a surpresa dela, nas mãos dele estava uma coleira com o nome “Brad”.