As ruas estavam vazias, lixos eram levados pelas águas das chuvas.
Reflexos de luz dançavam nas poças de água e nada além do silencio, vinha acompanhando as pegadas perdidas em abundantes águas.
Um dia antes deste dia cinza e frio, o sol anunciou festa e fez as estrelas se aquecerem com brilho intenso. A lua concordou que seria discreta e que a noite seria de muita alegria.
Por uma rua estreita começou a desfilar pessoas comprometidas com a felicidade. Vinham de todos os lados, cantando e dançando ao som do tempo.
Um dia foi bom, dois dias fez a dor passar num desfile longo, onde o som do riso se misturou com os ecos passados. Gritos que pareciam do presente, não podia ser real, não tinham provas da consciência viva ali.
Depois que todos passaram na avenida estreita, onde nenhum olhar viu tudo que ali passou, a avenida ficou gigantesca para um trapo empurrado pelo vento e arrastado pelo ontem.
Já era a hora de despedir do que restou sem olhar para traz. O silencio continua enquanto o resto da plateia gira. É um mundo pessoal, onde somente quem entra bebe as horas como quem desfila no deserto em busca de água fria. Nada é real, nada justifica nada.
A bela noite escaldante por fim ganha um toque molhado, gotas por gotas, umas de suor e outras de chuva.
Aconteceu então o já esperado fim. A borboleta vermelha volta para casa, de onde saiu ainda casulo. Estava coberta com uma renda negra, cheia de pedrarias bordadas, pedra por pedra era uma dívida para o amanhã. Não tinha como pagar a fantasia a vista e negociou com ontem o dia depois da alegria.
Não veio voando como se espera de uma borboleta livre, ela veio dançando até chegar aos pés da ladeira. Ali abriu os braços e rodopiou de cabeça erguida, bebericando água de chuva enquanto tentava gritar, mas só sabia sorrir.
A única peça de roupa ainda grudada em seu corpo era uma mistura de voal com penas. A cabeleira vermelha estava solta e se misturava naquele corpo pequeno, tão branco que parecia translucido.
Foi assim que encontraram a borboleta vermelha, caída numa possa de água que escorria rente ao meio fio da rua. Parte do seu cabelo ia com a água, até onde podia sem deixar a moça sem o véu da cabeça.
Um filete de sangue corria deste véu, uma miragem, cabelos vermelhos, lavados por sangue e chuva.
A luz vermelha da sirene fazia uma abordagem no corpo, vasculhando e exibindo quase tudo.
O silencio ali quebrado por vozes era delirante, mas a consciência da borboleta vermelha calou-se!