Caso com Adélia
Eu tinha meus dezessete anos, e toda a volúpia de a prender. E essa delegação partia de meu próprio âmago. Contudo me perdia, sempre, em pensamentos, palavras mudas, e obras das mais cabeludas.
E foi um ano que passamos juntos, embora na presença de uma quinzena de aspirantes ao prazer. Do puro e despudorado saber. E Gilson em tudo parecia manter a dianteira: na atenção, nas notas, enquanto vivendo pessoais existenciais crises, nosotros não passávamos de meros e melros aprendizes.
Era um dilema escolher entre a verbosidade quase evangélica da mestra e seus joelhos insinuantes, palpitantes, numa época em que se encurtavam as saias e se encandeciam os debates, os embates. Por pouco Dani, o rubro, não botava fogo em Paris...
Mas na cidade do Divino, as relações e reações eram mais introspectas.
Recônditas. E no auge da queimação interior surgiu meu momento com ela, a sós, tudo entre nós. Era o fim do ano letivo, e hora de se prestarem os exames. Quem tivesse alcançado 30 pontos ou mais em quatro trimestres estava automaticamente aprovado. Eu, havia chegado aos 29,50. Contudo, pelo critério prevalecente de arredondamento, tinha a opção de não fazer a prova - e ser aprovado.
Endureci: falei-lhe que não faria a prova final. Adélia, visivelmente chateada afirmou-me seu desejo de que eu reconsiderasse a decisão.
Queria tanto que eu fizesse a prova. Bati o pé, e nem sei se nos dissemos até.
Mas eu continuei a ler seus livros, cada vez mais encantado. E nem uma tentativa de reatamento, frustrada, me tirou esse encantamento. Por meio ponto...