O mistério da casa da Rua Vida Morte, Morte Vida

PRÓLOGO

Começar com relatos que escoam

Os dedos ficam dormentes

A água gelada desce um pouco

O copo antigo ideal para um divergente

Se há uma coisa que fico admirado

É a poeira cósmica que paira sobre a casa

Ela também fica acima das minhas preocupações

Uma árvore e uma casa com suas paredes rebocadas

Os tempos mais estarrecedores são os de chuva

Tem gente que acredita no desânimo dos pingos

Outros assistem pela janela o ciclo das nuvens

E nessa hora apenas tomo um café sorrindo

Nas madrugadas eu tenho um apego de insônia

Nem tanto reclamo, o silêncio é algo que fascina

A casa misteriosa fica no outro lado da rua

E eu no canto da sala me pego tragando nicotina

LAR, DOCE LAR QUE NÃO É MEU

Só mais um dia qualquer na Rua Vida Morte, Morte Vida

Nunca conheci os vizinhos da minha rua

E também não procuro saber da vida alheia

Viver requer um pouco de atenção apenas para nós

Pelas noites eu adorava passear e observar

A casa pela noite parecia um filme de terror

O mais engraçado é que não me assusto

O horror é algo presente desde sempre no mundo

Os dias passavam e despontava a curiosidade

A árvore gigante parecia ter séculos de idade

Não me surpreenderia se fosse milenar

Os calçados calçam meus pés calejados para entrar

Foi numa noite agradável de um mês desconhecido

Que eu pulei o pequeno muro e adentrei ao pátio

Sim, invadi a casa misteriosa de um terreno enorme

O terreno de tão vasto ligava dois quarteirões

ALGO ESTÁ MUDANDO

Coisas tentavam me falar que era para entrar

Coisas me falavam que era para eu correr

A curiosidade também é uma coisa que fascina

Ela faz você seguir em constante aprendizado

Eu fiquei alguns minutos refletindo

Nos motivos que levaram eu ter chegado até ali

E na indecência de invadir um espaço que não é meu

Mas minha mente implorava pela exploração

Quando fui chegando a porta para abri-la

A noite não estava mais agradável

A noite começou a ficar densa

A rua parecia tentar gritar em demasia

Pelo fato de ter chegado até ali

Pensei em bater e esperar uma reação

Mas como num belo filme de terror

Fui abrindo calmamente a porta

SERIA O FIM?

Abri a porta da tão cobiçada casa misteriosa

No primeiro pensamento pensei que iria levar um tiro

Num segundo pensei em um senhor de idade

Que iria chegar até mim dando um esporro

Nada disso aconteceu...

A grande verdade é que tudo era calmo

Parecia uma casa que estava descansando

Esperando recepcionar alguém para acordar

Quando fui me virar para a janela e olhar pra fora

Vi que o sol iluminava a rua e as várias pessoas

Mas que de tão desconhecidas, eram desfiguradas

Eram tristes, meros coadjuvantes de toda existência

Então, como explicar o inexplicável?

Precisava tirar tudo a limpo para poder seguir

A moral de tudo é que a casa era um templo sagrado

Que era força da minha imaginação

O grande detalhe, a grande sacada

A curiosidade que sempre me despontava

A casa da Rua Vida Morte, Morte Vida era sagrada

E a sua entrada era a ponte para o infinito

Eram um brinde as infinitas possibilidades

Um brinde as diversas realidades

Um brinde para a ingenuidade

E o brinde final para a mediocridade

Eu estava feliz em estar solitário

Podia fazer o que quiser em qualquer tempo

Podia observar a pequena rua e refletir

A curiosidade, eu sei, me trouxe discernimento

Foi então que uma voz entre tantas outras

Começou a falar devagar, em tom de sussurro

Algo que me fez baixar a cabeça e concentrar

Estava parado na sala ouvindo com atenção:

“Esse é o fim do seu propósito nesse plano, meu amigo”!

Sua jornada chegou ao fim a partir do momento em que você abriu a porta.

Coisas lhe diziam para você não entrar, mas você pela curiosidade entrou.

Agora você lembra que toda essa rua aqui era apenas sua.

Era o seu mundo porque era você, era sua imaginação!

O seu inconsciente, um mundo criado, vivendo no limbo.

Em sua vida consciente, você estava em coma, por um bom tempo, lutando pra viver.

Esse era apenas o seu retiro, sua temporada de reflexão.

Agora é a sua temporada de descanso e aprendizado.

Não há o que temer nessa nova jornada. Um ciclo se fecha, outro se abre.”

Recesolo
Enviado por Recesolo em 16/01/2018
Código do texto: T6227629
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