MISTÉRIO DO FUSO HORÁRIO


            Moro numa comunidade naturista onde conheci uma pessoa nascida na Inglaterra e que vive há muitos anos no Brasil -  foi ele que me contou uma das histórias que achei interessante e que com certeza ela foi vivida por ele. Pedi para que ele me contasse novamente para ser colocado nas minhas escritas que tem uma parte que envolve mistério que meche com a nosso consciente. Mas o meu amigo preferiu escrever a sua história vivida que faço questão de transcrevê-la a todos que possuem acesso aos meus contos.

Minha mãe era uma pessoa extremamente prática  e organizava sua vida até os últimos detalhes. Inclusive aderindo ao “EXIT” que era um documento,  reconhecido legalmente e  pela classe médica Inglesa, em que o declarante expressa seu desejo de uma morte digna sem ser sustentado por tubos etc.   Sendo assim ela sabia que eu, morando no Brasil há muitos anos, não teria que tomar nenhuma decisão por ela e não seria incomodado com o eventual falecimento dela. Ela, inclusive, doou seu corpo à pesquisa médica.
Instruiu-me que ao saber de uma internação dela, com pouca perspectiva de sobreviver uma estádia hospitalar,  eu não deveria me deslocar à Inglaterra porque era bem provável que chegaria para encontrá-la já  falecida e entregue ao órgão responsável por seu corpo.
Eu era radioamador e o contato que tinha com a minha mãe na Inglaterra era por recados passados por intermédio de um colega com o qual tive contato quase diariamente.
Aconteceu que de repente recebi uma mensagem da minha mãe, por via do meu amigo radioamador, dizendo que ela estava hospitalizada e pedindo que eu viajasse até a Inglaterra para estar com ela pela última vez. Fui tão logo possível após conseguir  uma passagem. Naquela época o caminho mais direto de Fortaleza  à Inglaterra, onde morava, era via Recife e foi por lá que viajei.
Ao chegar ao hospital, antes mesmo de falar com minha mãe, procurei o médico de plantão e fiz uma pergunta simples. “Estão com a carta de minha mãe?”  Ele me respondeu “Sim”
Foi necessário marcar meu retorno com antecedência e durante os dias que passaram a mãe fez questão de dizer que eu deveria ir até Londres, que não era tão longe,  fazer compras, passear etc. . Só queria que eu estivesse no hospital para ajudá-la com seu jantar. Foi assim que aconteceu. Visitei-a de manhã e depois fiz meus passeios.
No último dia fui me despedir dela e viajei de volta ao Brasil sabendo que os dias dela eram contados.
Cheguei em Recife no Brasil  e pelo fato que não havia conexão no mesmo dia para Fortaleza, fui obrigado a me hospedar num hotel para seguir minha viagem  no dia seguinte. Às seis da manhã fui acordado pelo telefone. Ao perguntar ao telefonista quem era? Mas ele  me respondeu que não havia me chamado. Retornei a dormir sem pensar mais no assunto.
Ao chegar em casa não tive como me presenciar no grupo radioamador que era de costume reunir-se  às 16.30 H. todos os dias. Eram operadores de Londres até as Ilhas Falkland  passando por Fortaleza, Rio de Janeiro e Buenos Aires.
No dia seguinte eu estava com o rádio ligado na hora de costume e logo meu amigo Inglês me chamou pedindo desculpas pelo fato que soube da morte de minha mãe, no dia de minha saída da Inglaterra e como eu não estava presente no grupo não tinha como comunicar seu falecimento. Obviamente, respondi que não tinha necessidade de se desculpar porque era eu que não estava presente no dia.
Algo me fez perguntar se o hospital havia informado a hora do falecimento da minha mãe e ele me respondeu que era às 09 horas da manhã. O fuso horário entre Inglaterra e o Brasil é de três horas.
Repito:  Minha mãe era uma pessoa extremamente prática”.
 A pergunta fica no ar...

Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 01/01/2018
Reeditado em 26/11/2021
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