A Dama da água
Certa vez, em uma noite de luar, estava eu à beira d'água, calmamente esperando a isca fazer seu trabalho e me trazer um belo e grande peixe.
Seguia pitando meu cachimbo, quando de repente ouvi um estrondo.
Na hora comecei a tremer e a primeira reação após o susto foi me levantar.
Seguido do estrondo, surgiu um clarão à beira do rio e de dentro saiu uma bela mulher.
Pisquei várias vezes por não acreditar no que via e a cada piscada parecia que a mulher estava mais perto.
Paralisado de susto e ao mesmo tempo hipnotizado por visão de tal encanto, fiquei ali sentindo meus pés fixos como raízes.
Ela estava vestida com tecidos leves e esvoaçantes, de um azul brilhante.
Então ela tocou em minha mão que ainda segurava a vara de pesca, me olhando atentamente.
Me senti envergonhado por meus trajes rústicos e maltrapilho.
Ela percebendo, tocou novamente em mim, com sua outra mão e no mesmo instante minhas roupas velhas e rotas tornaram-se uma bela vestimenta de um tom verde escuro, quase tão escuro quanto a noite que já ia alta.
Senti então um puxão na mão que segurava a vara e olhei, foi como se o encanto tivesse se desfeito.
Quando me virei pra ela novamente a bela mulher havia se transformado. Tinha o corpo de cobra nos mesmos tons azuis e a cabeça de uma velha com dentes salientes e pontiagudos.
Antes que eu pudesse gritar ela se jogou em minha direção me envolvendo e apertando. Senti meus ossos partindo e ela sorrindo pra mim com aquele rosto medonho vendo a luz dos meus olhos apagarem.
O que foi feito do meu corpo jamais saberei, a única coisa que sei é que meu espírito permanece preso à beira desse maldito rio e quando percebo algum pobre desavisado tento assustá-lo.