A Flor Estranha

Certa noite enquanto andava em minha mente, buscava algo lírico e breve que pudesse render uma boa história. Mas já havia andando por desertos, montanhas, loiras, morenas, homens de portos pesqueiros, vilas ocultas, florestas ocultas, campos; e nada me satisfazia.. Então na volta triste por não ter onde encaixar a lua, encontro uma linda flor na beira de um lago.

Azul como uma turmalina, brilhava tão forte que tudo atrás onde estava era cinza; parecia um fantasma andando nas águas. Fascinado com sua beleza, comecei a admira-la. Não sei se a arrancava, se a levava comigo e a plantava em meu quintal.. Não sei se dava para Mariana ou se simplesmente a colocava em um pote lacrado e a usasse como lanterna. Mas, pensando mais um pouco, essa flor era meio inútil; pois seu brilho era tanto e tão dramático, que até eu depois de um tempo comecei a ficar cinza perto dela.

'Como veria os lindos cabelos dourados de Mariana se te desse à ela? Meus sóis, minhas luas.. Como tudo seria chato se fosses só tu.. Isso não te incomoda? Nem querer saber dos outros?' - disse à flor, mas ela não escutou, e tudo continuava perdendo o brilho..

Entediado, levantei: 'Pra que a flor entre as flores se não serve nem pra enfeitar um vaso?'

Fui-me embora.

Lá perto havia um moinho em um campo onde fui deitar das longas andas.. Nem olhei os girassóis ou senti os ventos quentes, estava convicto que não havia encontrado nada de valor criativo. Deitei o corpo em uns blocos de feno e fui dormir. Dormi tão profundamente que não sabia se estava acordando pra fora ou pra dentro, e além do sonho.. Tudo brilhava tanto que eu nem sabia pra onde estava indo, estava com medo.. Então algo espeta-me o ouvido

Avulso, acordo como houvesse caído um raio mas.. Estava tudo calmo; exceto por notar uma pequena muda saindo de meu ouvido esquerdo assim que o cocei.

'Haha! És tu flor que nada serve? Com medo de morrer, de eu nunca visitar-te, atravessou as entranhas de minha mente e conseguiu chegar à esse mundo? - pensei' (mas ela não brilhava..)

(...) Quem dera Mariana pudesse andar pelo caminho que vieste..

Peguei-a e coloquei-a em um pequeno pote com terra no pátio.

Todos os dias a regava rotineiramente. Em uns outros até colocava coisas mortas como diziam os manuais para colher uma boa safra, mas nada acontecia. Outras flores nasciam, vinham matinhos, insetos, mas ela continuava lá: Morta. Putrefada como um feto que nunca nascia filho, mas que brilhava todas as noites em meus sonhos desde então..