A Nova MOrada

Caminhava a ermo por um caminho que lhe remetia a uma desventura sombria.O silêncio,ora era avassalador,ora ouvia ao longe gemidos assustadores,gemidos e reclames( berros que lembravam urros de feras selvagens).Xingamentos soavam, do nada com ofensas ao Criador.Indagava-se:" onde estou?O que faço por aqui?O que se passa?"

O terreno era acidentado,enlameado.Uma substância gelada,mal cheirosa e pastosa feito lama cobria o caminho.Pisava com asco,mas seguia resoluto.Indagava-se se havia algum destino a ser alcançado.Um casebre,uma pousada,um lugarejo qualquer-ou o encontro de outros,como ele-perdido,atônito?Seguia,apenas seguia.Cansado resolvia parar.Sentava-se no solo úmido.A escuridão ali reinava.Havia um eterno mal cheiro no ar.A escuridão implacável.Um vento frio avassalador-vez,ou outra o ar se tornava morno,contudo, o odor desagradável de coisa mal cheirosa o seguia.Pequenos animais se locomoviam na escuridão,Tinham uma aparência sofrível,angustiante.Não parecia se incomodarem com a sua presença.Alguns pássaros o sobrevoaram.Também,eram feios e tinham canto agourento,detestável.Indagava-se,olhando para o alto,como assim,desejasse reclamar com Deus:

" Onde estou? O que se passa...O que aconteceu comigo?"E,seguia andando,cambaleante,com a respiração angustiante,sofrível.Ali,ruiu de joelhos e bradou,aos berros: "Deus...o que houve? Eu quero sair daqui..."

Risadas sinistras se aproximavam.Pôde observar alguns vultos na escuridão se movimentando(não sabia se eram reais,ou fruto do seu delírio).-Tem alguém?Escutam-me?Eu preciso saber onde estou...Que lugar é esse?-

Risadas sinistras soaram.Pareciam dele debocharem.Então ouviu claramente: "seja bem-vindo ao Inferno."

Risadas soaram,de forma insistente,em dissonância com o ambiente desprovido de luz e de uma temperatura desconfortável.Dele se aproximavam.Cercavam-no.

-Eu preciso de auxílio,por favor,alguém poderia me dizer o que aconteceu comigo?Nada me recordo...quem sou,o que fazia,o que faço aqui...por favor....-

Riram dele.As risadas soavam,de forma debochada.

-Eu ja disse(rindo).Seja bem-vindo ao Inferno.

-O som assombrado de trovões pipocaram no ambiente.Assustaram-se e embrenharam-se,de forma atônita pela escuridão.Uma chuva torrencial o envolvia.O chão se tornou alagado e muito mais frio.Debruçou-se no chão.O queixo tilintava,de frio.Os dentes trincavam-se uns aos outros.O vendaval era cortante.Ventava.Chovia.

-Deus....por favor.Tire-me daqui.Socorro...

-Desfaleceu ali,com a chuva avassaladora alagando o chão e envolvendo o seu corpo.

-Onde estou?

-Percebeu com certa facilidade o ambiente.Algumas árvores se sacudiam ao vento.A lua cheia pairava num céu estrelado,onde algumas nuvens passeavam,de forma essencial,como se quisessem embelezar a noite.Em mármore carrara pôde ver as figuras dos anjos,com suas asas abertas,de braços estendidos,como se quisessem abraçar àqueles que não mais pertenciam a vida comum.

-Onde estou? - repetiu a frase,de forma atônita,gaguejando.As figuras de mármore pareciam vivas.Estavam entre os túmulos.Eram as guardiães dos que ali repousavam.Tinham figuras de senhoras,senhores e de anjos adultos e anjinhos gordinhos-como se quisessem simbolizar a pureza máxima dos seres que não mais experimentavam a habitação num corpo de matéria densa.

-O-onde estou?-Repetiu a frase.Mantinha-se em descalabro desespero.

-Onde estou,alguém por aqui?Diga-me ,por favor...

Nada de respostas.O mau odor que o circundava era a única coisa palpável à sua volta.Pelo menos a escuridão ali,era menos intensa-parecia estar sozinho.Sentou-se numa cova.Ali pôde ver o seu retrato.Vestia o paletó azul da antiga formatura da escola formal.Sim,recordara-se daquele evento e da foto,com segurança.

-Como posso estar numa foto,de uma cova,um túmulo se estou vivo.O que se passa?

Risadas sinistras soaram à sua volta.Vultos se manifestaram,quando a lua tinha sido encoberta pelas nuvens.Riram,debocharam dele e um deles disse:

-Seja bem-vindo ao cemitério.

-Riram,com deboche.

- O que se passa?

Nada disseram.Sumiram na escuridão.Os dias passavam.As horas.Era noite,era dia.Fazia sol,era noite. A lua no céu. Chovia.Anos passavam.Então descobriu que ali era a sua nova morada.A sua foto se desgastava diante das chuvas, e da exposição ao sol.Os parentes próximos deixaram as visitas de lado à sua sepultura, que estava sendo tomada pelo mato rasteiro.As flores foram ficando raras.As velas não eram mais acesas, ao sopé da sepultura.Os cabelos cresceram,a barba.As unhas estavam enormes e sujas.Tinha fome e sede. Desesperado dizia ao vento:

-O que se passa?Alguém poderia me dizer?(tossia).

-Seja bem-vindo ao cemitério...(gargalhavam).

Não mais lhes davam importância.A resposta soava sem lhe causar espanto.Mas,continuava repetindo,balbuciando :

-O que se passa?O que se passa?Eu estou vivo...Como posso ter uma cova com o meu retrato?Alguém poderia me dizer? (tosse insistente)

-Riam dele.(muitas gargalhadas sonoras).

A lua cheia se manifestava de forma imponente.Era uma noite estrelada.Talvez ,caísse um chuvisco.Ventos violentos agitam as nuvens cinzas.Seria mais uma madrugada sem respostas confortáveis. Ouvia-se a tosse insistente,do nervoso,que ficava o seu ser.

LG

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 18/11/2017
Reeditado em 05/01/2018
Código do texto: T6175020
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