A MISTERIOSA VILA 1 - CHEGADA A BALTIMORE
A escuridão estava mais densa, a noite chegaria em breve, apertei o passo. A garçonete começou a acender os lampiões de óleo, e o taverneiro acendia o fogo na lareira. Um pesado candelabro de ferro, pendia do teto com dezenas de pequenas lâmpadas de velas.
Acabara de chegar de viagem das terras do norte, só com um alforge eu uma rede. Na minha caminhada, mantive o oceano a vista o tempo inteiro, e só parava ao longo do caminho, onde alguém me acenava. Havia recebido pagamento pelo trabalho que prestei a uma embarcação que transportava cavalos, e guardava algum dinheiro.
Quando alcancei a primeira rua empoeirada daquela vila, o sino da igreja badalava seis horas. Notei no olhar das pessoas um certo pavor. Algo que desconhecia se aproximava. A curiosidade me corroía, porque tanto pavor? A poeira da estrada ainda estava impregnada em minha pele e em meus olhos. Suspeitei que toda aquela comoção emanava de uma força diabólica. Em apenas alguns minutos o céu escureceu, em pesadas nuvens cor de chumbo, e rapidamente se transformaram em uma intensa tempestade de poeira, relâmpagos e trovões. Os estrondos mais pareciam urros lamentosos de um animal ferido.
Sentado num canto da taverna, observava pelo vitrô da pequena janela de madeira, os revoltos redemoinhos dançando como demônios na estreita rua de terra, levantando a poeira em meio a forte cheiro de ozônio. Seus poucos habitantes se esconderam, não havia uma alma viva nas ruas e vielas. Da taverna também todos foram embora, só restaram eu, o taverneiro e uma atraente moça de olhos verdes e cabelos negros, que atendia no balcão. Confesso que me sentir atraído por ela.
Chamei-a e lhe perguntei o acontecia, ela me olhou por uns momentos, fixou o olhar no surrado piso de madeira e quase entre soluços disse; "Isso é o carma que essa vila carrega pelo resto da sua existência, todos os anos aleatoriamente morre um dos seus moradores". Em seguida me suplicou fosse embora assim que passasse a tormenta. "Por favor, forasteiro, vá embora enquanto pode, vá e não olhe para trás".
Talvez inebriado por aquele olhar, sentisse uma vontade enorme de ficar por ali mais alguns dias, mas, passei somente aquela tenebrosa noite. Estava completamente exausto pela peregrinação ao longo do litoral do oceano. Partir no outro dia cedo. Me despedi do taverneiro, e o meu olhar vagueou pelo salão a procura da moça, mas não a encontrei. Meio a contra gosto, me pus a caminho. Estálidos dos galhos contorcidos pelo vento, denunciavam o pranto da manhã. Andei quase dois dias em ao Sul, só parando para descansar a noite. Quando cheguei à próxima vila, procurei informações com um morador sobre o ocorrido.
A princípio ele me olhou com desconfiança, mas, após lhe dizer quem eu era, e para onde estaria indo, ele começou a falar o que ocorrera.
Anos antes na guerra, os campos ficaram coalhados de cadáveres de soldados, nas suas sangrentas batalhas. O comandante do exercito local e seus soldados, tinham o habito de comemorar a vitória comendo os corações dos seus inimigos. Ele também levava restos humanos para aquela vila, onde todos comemoravam, e os comiam em meio ao álcool e o churrasco.
Desde então, se abateu uma maldição diabólica sobre aquele lugar. Todos os anos por ocasião da passagem de aniversário da batalha, os espíritos dos mortos entram na vila, para se vingar dos seus companheiros e levam um dos seus habitantes como troféu. E que naquela noite, soube que levaram a filha do taverneiro.