O grande tesouro
Passos rápidos ouviam-se no silencioso e imenso corredor daquela mansão.
Depois de anos de indiferença, Renato finalmente falaria com o seu pai.
Mas não era uma simples conversa.Estava ali a pedido do Sr. Mello,que estava a ponto de partir.
Afinal,o que ele queria?
Com o coração endurecido adentrou a suite de seu pai.
Um quarto amplo e arejado,com uma vista que dava para o mar.Um vento frio percorria o ambiente,graças a porta da varanda que estava aberta.
Um velho senhor, dantes tão forte e ativo,agora estava debilitado e fraco em cima daquela cama imensa...
A enfermeira que cuidava de seu pai ao vê-lo,retirou-se imediatamente deixando-os à sós.
O velho faz um esforço e o cumprimenta com dificuldade, não obtendo resposta.
Renato desejava ver seu pai se humilhar e implorar o seu perdão. Porém, contrariando suas expectativas,seu pai falou:
_Filho,lembra daquela lenda sobre o tesouro que eu te contava quando criança?
Renato acenou com a cabeça afirmando.Seu pai então prosseguiu.
_Na verdade não é uma lenda. A nossa família tem sido guardiã de um grande tesouro.
Renato sorri sarcasticamente.
_O senhor está delirando...
Nesse momento seu pai o segura pela beca e lhe diz olhando nos olhos.
_Ouça Renato, você é meu único filho,meu herdeiro. Porém só receberá a minha herança se encontrar o tesouro. Terá que mostrar que está pronto para gerenciar meus bens.Esse é o seu teste.
Renato não podia acreditar...
Eram os últimos suspiros de seu pai e tudo no que ele pensava era nesse tesouro maldito!
_Você deverá encontrar Sabiá,na" Lanchonete do Leo".Ela te guiará até o tesouro.Prometa que vai procura-la..._Disse o Sr.Mello desfalecendo,sem sequer ter a chance de ouvir a resposta de Renato.
Renato se afastou da cama lentamente...
Não conseguia chorar.
Tudo que fez foi olhar o mar pela janela do quarto, como se o espírito de seu pai estivesse indo sobre as águas.
Sua primeira reação foi ignorar o último pedido de seu pai.Mas depois de algum tempo, a curiosidade não lhe deixava descansar.
Então decidiu ir em busca da tal lanchonete...
Descobriu que ficava em uma favela. Um lugar bastante perigoso e desprovido de qualquer segurança.
Ao chegar no estabelecimento mencionado por seu pai,perguntou a atendente por uma tal de Sabiá.
Qual não foi a sua surpresa quando a atendente o levou até a pessoa que o guiaria ao seu tesouro.
Era uma garota de aproximadamente oito anos.Cabelos emaranhados,dentes careados e cega.Estava a porta da lanchonete cantando para ganhar alguns poucos trocados.
Renato murmurou :
_Não pode ser...
Aproximou-se da garota na tentativa de iniciar um diálogo. E quando disse se chamar Renato,ela disse está a sua espera.
Disse que um homem tinha confiado a ela um tesouro e que ela só poderia repassar as mãos dele.
Renato não sabia o que pensar,simplesmente a seguiu até um humilde barraco.
Ela entrou e lhe trouxe um objeto enrolado numa toalha.
Com todo cuidado lhe entregou...
Ele então desembrulhou o objeto e tudo que viu foi o seu reflexo naquele espelho antigo.
Quando virou as costas do espelho,viu os seguintes dizeres:
Você é o meu maior tesouro.
Renato estava chateado,passara por tudo aquilo por meras e mentirosas palavras?
Foi então que se deu conta da carta que derrubara no chão.
Era escrita a próprio punho pelo seu pai, onde o seguinte trecho dizia:
"Filho,só descobri que eras meu tesouro tarde demais . Não tenho como fazê-lo me perdoar.
Mas posso desfazer algo que fiz a muito tempo.
A garota a sua frente, é filha da sua amada e falecida Abigail.
Ela é seu tesouro agora.
Ela é sua filha..."
Nesse momento, depois de muito tempo, lágrimas quentes desceram pelo rosto de Renato. Esmiuçando a dureza da sua alma.
Envolvendo pai e filha em um longo abraço.