Clarice e a casa à beira da estrada VI
Voltando no tempo?
Após horas desacordada, Clarice abre os olhos observando a sua volta. Reconheceu o ambiente. Estava deitada no sofá da sala da velha casa. Não viu ninguém. Nenhum barulho sequer. Estava completamente sozinha.
Levantou-se ainda um pouco tonta, se escorando nas paredes, foi à procura de algo que fizesse sentido. Chamou várias vezes por alguém: “oi, tem alguém aqui?” Só ouvia o eco de sua voz! Na cozinha encontrou um bilhete em cima da mesa que dizia: “Querida, fizemos um lanche para você! Estamos no lago.”
Confusa e com fome, ela comeu antes de pensar em quem deixara o bilhete. Antes de sair da casa, resolveu verificar os quartos. Para sua surpresa, o quarto da menina estava diferente, não se parecia com um quarto de criança. Cansada das dúvidas, foi logo para o fundo do quintal e de longe avistou quatro pessoas sentadas a beira do lago pescando e rindo alto. A mulher mais velha acenou para ela. Chegando perto deles, Clarice olhou cada rosto e reconheceu a senhora que chorava e o marido que esbravejava, o homem que a chamou de filha, agora parecia um pouco mais velho e a moça que escovava os cabelos continuava linda com mais idade.
“Sente-se querida, aqui perto da vovó!”
Ela se sentou e com cara de espanto, perguntou:
“O que estou fazendo aqui? Entrei no carro, me despedi de vocês e... Aliás, vocês estavam diferentes. Quem são vocês? Cadê a menina?”
Agora eles pareciam não entender o que ela dizia. De que menina ela estava falando? Se olharam compreendendo que Clarice não acordou bem do sono da tarde. A mulher mais jovem perguntou:
“Filha, está tudo bem com você?”
“Eu, filha? Vocês estavam mortos e a menina também. Ela me disse para perdoá-los e...” Clarice engoliu seco. Não conseguiu falar mais, começou a se lembrar quem eles eram.
“Minha filha, acalme-se. Você deve ter tido pesadelos de novo!” Disse o pai.
Clarice abriu um largo sorriso e foi abraçar a avó:
“Vovó, seu almoço estava delicioso como sempre!”
Depois o avô:
“Vovô, o senhor não desiste de pegar o peixe de dez quilos que lhe escapou há um mês!
A mãe respirou aliviada. E ouviu a doçura dizer:
“Mamãe, seus cabelos estão cada dia mais lindos!”
O pai, orgulhoso, aguardava seu abraço que chegou como se fosse o primeiro:
“Paizinho, obrigada por ter desistido de passear de canoa. Te amo!”
Riram-se todos aliviados e o pai disse:
“Já se passaram dez anos de sua festa de aniversário e você não esquece o passeio que não fizemos!”