O Mistério da Porta da Cozinha Que Abria e Fechava Sozinha
O evento começou na quarta-feira de cinzas do ano de 19... À meia-noite, em ponto, a porta da cozinha abriu e fechou sozinha várias vezes. Logo após o rugido do ponteiro do relógio de parede, sinalizando a hora de transição do novo dia. No soar das horas, o relógio ganhava vida e não tirava os pêndulos, como se fosse olhos, da cortina dourada.
Mas, antes de chegar à culminância desses dias desvairados, aconteceram coisas estranhas. Muito estranhas. Antes das batidas do relógio, o rádio e a televisão ligavam, obedecendo a um comando invisível. O rádio tocava músicas de dor e tristeza. As lâmpadas acendiam, roubando meu sono. A casa se enchia de um barulho ensurdecedor, de enlouquecer, que durava horas, em meus frágeis tímpanos.
No dia seguinte perguntava aos vizinhos se ouviram barulho à noite. Não, ninguém ouvira. Foram treze noites infernais. Minhas energias esvaiam. Os membros arrefecidos, prenunciavam o meu fim. Magro, andava como um zumbi pela casa. Como se fumara pedras. E aquele gato branco, de olhos vermelhos proeminentes não me deixava pegar a água do filtro. A sede era tanta, que bebi a água do vaso sanitário. O mesmo gato que se vingara de Frederico, me seguia com os olhos, língua pra fora. Garras afiadas. Ao décimo terceiro dia, sentia-me abatido. Estava nas trevas. Longas noites de pânico. Uns urubus pousaram nos postes, mirando em minha direção. Então, no décimo terceiro dia, aconteceu uma mudança súbita. Conferi os dias, em meus riscos de carvão na parede. O gato branco deu um miado longo; depois de lançar sua longa língua em minha direção, desapareceu pela janela. Em seguida eu dormi um sono de.. Até ser acordado, ao toque de uma mão rugosa sobre minha testa. Era uma mulher que jamais vira. Ofereceu-me café e bolinhos de chuva. E desapareceu sem que eu percebesse. A vida voltava à rotina.
Doce rotina. Ah, como tinha saudade desta vida besta que eu levava! Mas que viria a se romper abruptamente. Tomei meu café matinal, com amor em pedaços, bolo que Wanda me dera. Às vinte duas horas em ponto, vesti o pijama verde, presente de aniversário de RR. E fui dormir.
À meia noite meu sono fora interrompindo pelo abrir e fechar da porta da cozinha. Assim sucede todas as noites. Mas não me traz incômodo, pois agora moro com os seres do além.
Imagem: Youtube
O evento começou na quarta-feira de cinzas do ano de 19... À meia-noite, em ponto, a porta da cozinha abriu e fechou sozinha várias vezes. Logo após o rugido do ponteiro do relógio de parede, sinalizando a hora de transição do novo dia. No soar das horas, o relógio ganhava vida e não tirava os pêndulos, como se fosse olhos, da cortina dourada.
Mas, antes de chegar à culminância desses dias desvairados, aconteceram coisas estranhas. Muito estranhas. Antes das batidas do relógio, o rádio e a televisão ligavam, obedecendo a um comando invisível. O rádio tocava músicas de dor e tristeza. As lâmpadas acendiam, roubando meu sono. A casa se enchia de um barulho ensurdecedor, de enlouquecer, que durava horas, em meus frágeis tímpanos.
No dia seguinte perguntava aos vizinhos se ouviram barulho à noite. Não, ninguém ouvira. Foram treze noites infernais. Minhas energias esvaiam. Os membros arrefecidos, prenunciavam o meu fim. Magro, andava como um zumbi pela casa. Como se fumara pedras. E aquele gato branco, de olhos vermelhos proeminentes não me deixava pegar a água do filtro. A sede era tanta, que bebi a água do vaso sanitário. O mesmo gato que se vingara de Frederico, me seguia com os olhos, língua pra fora. Garras afiadas. Ao décimo terceiro dia, sentia-me abatido. Estava nas trevas. Longas noites de pânico. Uns urubus pousaram nos postes, mirando em minha direção. Então, no décimo terceiro dia, aconteceu uma mudança súbita. Conferi os dias, em meus riscos de carvão na parede. O gato branco deu um miado longo; depois de lançar sua longa língua em minha direção, desapareceu pela janela. Em seguida eu dormi um sono de.. Até ser acordado, ao toque de uma mão rugosa sobre minha testa. Era uma mulher que jamais vira. Ofereceu-me café e bolinhos de chuva. E desapareceu sem que eu percebesse. A vida voltava à rotina.
Doce rotina. Ah, como tinha saudade desta vida besta que eu levava! Mas que viria a se romper abruptamente. Tomei meu café matinal, com amor em pedaços, bolo que Wanda me dera. Às vinte duas horas em ponto, vesti o pijama verde, presente de aniversário de RR. E fui dormir.
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A MOÇA DO VIOLONCELO (CONTOS DE AMOR E TEMOR) ESTRELAS (POESIAS). A crônica acima não integra o livro.
DOIS LIVROS PELO PREÇO DE UM. FAÇA CONTATO E PEÇA O SEU. SEM FINS LUCRATIVOS
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