Clarice e a casa à beira da estrada III
Os “moradores”
“Onde estão seus pais? Não vi você quando entrei, até chamei e não respondeu!”
“Cheguei junto com você! Viu aquela foto na parede, o casal de noivos? São meus avós!”
E a menina empolgava Clarice com suas histórias puxando-a pela mão e sem responder suas perguntas. Contou sobre o casamento dos avós ali mesmo, embaixo do pé de manga. Os noivos ganharam até um cão de presente, o Pitoco, que mordeu o véu da noiva durante a valsa e saiu arrastando no meio dos convidados.
“E onde estão seus pais?”
“Vem aqui no quarto da minha mãe!”
Depois de achar graça na esperteza da menina, Clarice se sentia confusa. O quarto tinha uma cama de casal, coberto por uma colcha de retalhos que há tempos não se via, um malão e uma penteadeira com um espelho enorme. Sentiu o cheiro de perfume ali dentro. Viu uma jovem mulher sentada em frente ao espelho escovando os cabelos. Ela sorriu com ar de tristeza para Clarice que sentiu a menina apertar sua mão. Num piscar de olhos, a mulher desapareceu.
“Para onde ela foi? Era sua mãe?”
“Vem comigo!”
Entraram no outro quarto. Se depararam com uma senhora deitada, chorando e o velho homem esbravejando com ela. Ambos ignoraram a presença das duas. Deram uns passos para trás silenciosamente, assustadas com a ira daquele homem, e ao se virarem, já estavam em outro quarto. Esse era bem alegre! Boneca de pano, pendurada na parede sobre a cama de solteiro coberta por uma manta rosa e muitos brinquedos em cima.
A garotinha se mostrava satisfeita com o que via, mas os arrepios tomaram conta de Clarice que saiu apressada e dessa vez, ela quem puxou a menina.
“Aqueles são seus avós da foto, não são”?
A menina, cabisbaixa, respondeu:
“Sim, são eles. Depois que minha mãe foi acometida por uma desgraça, eles vivem a brigar”!
“Preciso de ar fresco. Vamos lá fora”.