DESEJOS INSANOS
Era um cenário assustador para um homem comum, e pouco habituado a frequentar ambientes de postura insólita,e pertubadora. Nuvens cinzas postavam-se no céu tornando a noite mais escura,sem estrelas.A lua estava passiva,incólume -a luminosidade pouco escapava-lhe por entre as massas de nuvens escuras.Os sobrados de arquitetura antiga,gasta pelo tempo, e os poucos prédios, de poucos andares,que por ali existiam pareciam fazer parte planejada daquele cenário amedrontador.Eu estava por entre altos muros, e cercado por árvores que parecia terem sido ambientizadas de um filmeco de horror.Os troncos, de volumes que impressionavam pareciam elementos vivos a se contorcerem contra a velhice eminente de sua seiva.As copas tinham folhas amareladas,retorcidas,que balançavam contra a ventania,que ali reinava assobiando de forma incessante.Vi alguns roedores passeando por entre as tumbas,talvez procurassem o que roer e aplacar a fome.Um gato negro roçou por entre as minhas pernas e pulou o muro,antes soltou um miado rouco.Olhou para mim e foi-se sem se despedir sem avisar.Parece mentira,mas uma coruja,do nada surgiu e aplacou um dos ratos em suas garras e o devorou,com tranquilidade.Abriu-lhe o ventre e consumia as suas tripas sanguinolentas com vigor.Perguntei-me:o que estava fazendo,ali àquela hora da noite?
Eu não sabia.Sentei-me no túmulo que estava à minha frente.Em nada pensava.Ora,se quer sabia quem eu era.Tinha uma caneta nas mãos.Rabisquei algo,de características no estilo sombrio,letras amedrontadoras.
Levantei-me e saí dali.O cemitério,com aquele cenário bucólico havia ficado para trás.Uma neblina tomava de assalto o ambiente.Assustador.Eu não sei como havia tido a coragem por ficar até àquela hora.Lembro-me,de que num impulso inexplicável rabisquei tudo o que havia presenciado num pequeno caderno.Riscos nervosos,tensos
-Aonde você estava?
Soou a voz feminina.Calma e fria,como sempre.
-Eu estava num cemitério...
Disse-lhe com paciência,e sem pestanejar.
-Estranho.Os seus desejos insanos....
Foi tudo o que disse,enquanto me servia um farto gole de café numa xícara branca,de louça.
-Pretende voltar a escrever contos de terror?
-Não sei,acho que estou ensaiando para uma morte breve...do escritor que vive em mim e se recusava a morrer.
Ela parecia que nada iria me responder.Passava manteiga nas fatias de pão.Encheu a sua xícara de café preto,mordeu com sofreguidão,e de boca cheia me respondeu:
-Comer pão com café preto à meia-noite...Que gosto insano este seu.
Comi o pão.Mordia fazendo barulho.Tomava fartos goles do café preto.Pensava em voltar a escrever os meus velhos contos de terror e publicar na página de variedades do jornal de domingo.O vôo da coruja com o rato no bico não me saía da memória.Não sei onde deixei o caderno com os trechos da escrita assustadora que narrava o ambiente sombrio,com tumbas,lápides,uma farta neblina.Mais um morcego devorando camundongos de cemitério.Uma coisa não saía da minha cabeça:eu precisava matar o escritor.Não sei como,mas pensava em matá-lo...
LG