Clarice e a casa à beira da estrada
O chamado
Abraçada ao travesseiro, pernas misturadas em lençóis e cabelos cobrindo o rosto. O despertador a acorda. Preguiçosa, tenta se esticar e percebe que esta enroscada em sua cama. Ri de si mesma e levanta. Foi mais uma de suas noites mal dormidas por causa de sua inseparável insônia.
Liga a cafeteira enquanto pensa na velha casa de madeira à beira da estrada por onde passa nos finais de semana quando foge do barulho da cidade e vai para o sítio da família. Toda vez é assim, intrigante aquela vista. Não há ninguém no lugar. “Por que não vai até lá dar uma olhada?” Pensa, porém não para.
Tomou seu café e o último gole foi decisivo. Pegou a chave do carro, a mochila e partiu. Dessa vez parou! Encostou o carro em frente ao portão bem próximo a estrada. Não sabia se tinha alguém ou algo perigoso por ali. Bateu palmas, com bastante força, na esperança de alguém responder e então ela perguntaria por um nome qualquer e iria embora. Nada! Gritou:
“Oiii!”Sem resposta.
Devagar, foi empurrando o portão enferrujado e barulhento, tentando ganhar tempo para observar ao redor da mórbida casa. Haviam árvores frutíferas por toda a volta, uma sombra generosa e um quintal coberto por folhas e frutos podres. A cada passo que dava, ecoava o som de suas pisadas. Excitava-se com um misto de medo e curiosidade.
Olhando de perto, a casa era mais velha do que parecia. Janelas quebradas, a porta da frente sem o trinco e as paredes não apresentavam mais sinal de tinta. Deu a volta pelos fundos onde havia uma varanda envergada pelos anos e faltando algumas telhas romanas, por onde entrava claridade do sol. A porta estava torta e entreaberta, uma abertura exata para a passagem de seu corpo.
“Não acredito que estou fazendo isso”! Sussurrou. Era mais forte do que ela, como se a casa a chamasse e agora sorrisse para ela.
PS.: Continua...