O canto do pássaro: Ouvir é perigoso
A curiosidade de um homem pode levar a muitas coisas: descobertas inéditas, inovações, surpresas e também... a morte.
Polidoro sempre estava atento a tudo o que acontecia na fazenda. Seus olhos estavam sempre bem abertos. Era difícil algo esquivar-se de sua visão aguçada. Não tinha estudo. Nunca sentou em uma cadeira de escola, nunca se quer tocou em um livro e nem mesmo o nome sabia assinar. Mas isso não era um problema para ele. Sabia muito mais do que qualquer um com o mais alto nível de ensino. Guardava segredos, histórias. Sempre tinha algo para contar e ensinar. Seus ensinamentos valiam ouro. Mas o que mais chamava a atenção naquele singelo homem, era sua curiosidade. Ah, que curiosidade! Sempre esteve atrás de novidades. Sua curiosidade o levou a grandes invenções, que ele mesmo fez, sem ajuda de ninguém, e que por vezes acabava surpreendendo o dono da fazenda e a todos a sua volta.
Certo dia, no fim de uma tarde de sol forte, Polidoro estava sentado na porteira da fazenda, como sempre fazia depois da lida no campo. Ali era um momento singular para ele. Gostava de ficar pensando na vida. Olhava as paisagens ao seu redor. Mas naquele dia, algo em especial chamou mais a sua atenção e despertou sua curiosidade de uma maneira que nunca tinha acontecido antes. Desceu da porteira e se aproximou do que estava vendo. Era um pássaro. Sim, um pássaro. Não um pássaro comum. Era diferente de todos os outros. Era uma ave belíssima. Suas penas mesclavam cores azul, amarela, vermelha e preta. Tinha um bico grande.Calmamente, como se nada o incomodasse, o pássaro andava no chão, bicando alguns insetos e grãos que tinham ali. Polidoro ficou encantado. Nunca se viu tamanha beleza naquele lugar. De fato muitos pássaros rodeavam na fazenda, mas aquele tinha algo em especial. Algo a mais do que sua beleza. Algo que Polidoro não sabia dizer o que era.
Depois de alguns minutos observando aquele pássaro, Polidoro pensou em mostrar a todos o que tinha encontrado. Talvez o fato de um novo pássaro surgir na região não fosse um motivo nobre para as outras pessoas da fazenda, assim como era para ele. Mas ele não se importava, queria mostrar a todos o que achou. Foi então que ele decidiu tentar agarrar o pássaro.
Quando estava pronto para pegar a ave, um leve ruído, em tom baixo, quase impossível de se ouvir, ecoou ao redor. Parecia estar vindo do pássaro. Polidoro fez uma pausa em seus passos. Esperou um pouco e seguiu em frente. A cada passo dado, o canto do pássaro aumentava. Polidoro ficou cismado com aquilo, mas não temeu nada.
O canto daquele pássaro era uma melodia atraente, encantadora e formosa. Polidoro já estava quase próximo ao pássaro. Conforme se aproximava o canto ia se tornando ensurdecedor. Polidoro poderia tapar os ouvidos, mas precisava de suas mãos para fisgar o pássaro.
A noite ia chegando lentamente. Polidoro ainda estava ali. O pássaro não se movia. O homem se aproximava com cuidado para não espantar a ave. Seria um infortúnio ver aquela venustidade bater as estupendas asas e correr o risco de não vê-la nunca mais.
Quando já estava com as mãos prontas para pegar o pássaro, o canto da ave estava insuportável, era de doer os ouvidos. Polidoro não estava suportando. Ninguém suportaria. Polidoro caiu no chão. Suas roupas sujaram-se da poeira vermelha da estrada. Começou a se debater no chão. Era assustador. O pássaro abriu as asas e ao redor do homem rodeava aumentando seu canto. Polidoro ficou ali naquela situação por algumas horas até não mais resistir. Morreu ali mesmo.
E o pássaro... Voou e jamais foi visto por ali.