A mãe d’água
Assis Silva
O rio corria calmamente, parecia sem presa e despreocupado. Até que sua tranquilidade foi quebrada por um bando de criaturas barulhentas, infernais. Os pássaros que tentavam descansar nas copas das árvores tiverem que fugir apressado daquela zorra. Era Josefina e seus primos que foram tomar banho em uma hora indevida, as 18:00 horas. Tantas vezes sua avó Joana havia lhe aconselhado: Não vais ao rio ao fim da tarde, pois é a hora da mãe d’água. Mas a meninada não se importava, mãe d’água é coisa de velho, isso é lenda, não existe, diziam eles.
A noite vinha chegando calmamente, e o sol dava seu até amanhã ao dia. No crepúsculo, já com a visão comprometida, Josefina vê um animal estranho, parecia uma lontra, mas não era. Achou que fosse de fato uma lontra, não disse nada a ninguém. Brincaram até escurecer por completo, na maior algazarra.
Quando estavam retornando para casa, já escuro, Josefina começa a sentir dor de cabeça, sentir um mal-estar. Era uma menina magra, cabelos longos, lisos e escuros como a noite. Ao adentrarem na casa, dona Joana, mulher conhecedora da natureza e dos moradores do rio, exclamou com um ar de preocupação e tristeza:
- Eu avisei, por que vocês não me ouviram, as 06:00 horas da tarde é a hora da mãe d’água. Pronto, ela fez o que devia fazer.
Josefina enfraquecia conforme o tempo passava, ficava pálida e mais se empalidecia na luz opaca da lamparina. O quebranto da mãe d’água, protetora dos rios e dos igarapés, fez-se valer na fraca menina.
Os primos ficaram apavorados sem saber o que fazer, como ajudar. Dona Joana, embora preocupada os tentou acalmar:
-Fiquem tranquilos meninos, a mãe d’água não mata ninguém, ela só não gosta que incomodem os moradores dos rios nem dos igarapés. Vocês foram em horário indevido ao rio, ela não gosta de ser incomodada, ela dá o troco. Mas ela não mata, apenas protege os seus filhos. Agora vocês já sabem, não brinquem com a mãe d’água, cuidado com o rio.