O mistério do parque
Dafne sempre caminhava pelas manhãs no parque central da cidade de Elfinya. Em meio a paisagem linda do local ela praticava seus exercícios físicos. Já estava habituada com o lugar e por isso algumas cenas passavam despercebidas aos seus olhos. Um dia a caminhada de Dafne tornou-se um pesadelo aterrorizante do qual jamais iria se esquecer.
Já estava na terceira caminhada quando notou algo de diferente. Não era comum ver aquilo por ali. Nem ali e nem em lugar nenhum, pensou. Uma orelha decepada estava no chão. Ainda continha resquícios de sangue. Dafne agonizou-se. Ficou trêmula. Nunca havia pensado em encontrar partes de um corpo por ali. Por um momento pensou ser apenas um fruto de sua imaginação. O escritório no qual trabalhava poderia estar causando tanta pressão sobre Dafne a ponto de imaginar coisas.
Chegando em seu apartamento, trancou a porta e colocou as chaves na mesinha de centro da sala. Ela sempre fazia isso. Seu cachorro, Violim sempre vinha afoito correndo lhe receber, sua relação com Violim era a mais discreta possível. Era proibida a entrada de animais no prédio, mas Dafne nunca coonseguiu desapegar do presente que havia ganhado de seu ex namorado. Era uma lembrança que comovia Dafne e que irritava Farley, seu atual namorado.
Quando contou o que havia visto no parque ao namorado, ele não acreditou.
- Uma orelha Dafne?! Por favor. Ironizou Farley que não fez questão de esconder o tom de deboche.
- Sim, uma orelha. Eu sei o que eu vi. Que motivos teria eu para criar essa história? Dafne retrocou. Estava com raiva.
- Eu já te falei. Você tem trabalhado muito nos últimos tempos, muita pressão sabe. Isso não passa da imaginação da sua cabeça. Esquece isso.
Dafne queria mesmo pensar que tudo fosse somente uma imaginação. Mas a cena da qual seus olhos castanhos puderam ver, era nítida e incapaz de ser apagada de sua memória.
- Eu vou provar que não estou maluca. Vou investigar isso. Tantas pessoas passaram por ali e só eu vi aquilo. Isso deve ter um propósito, sei lá. Dafne estava pensativa.
No outro dia, voltou ao parque. Estava ainda espantada e pela primeira vez teve medo. Estava tudo como nos outros dias. Os pássaros cantavam, as árvores faziam sombras na qual as pessoas podiam se esquivar do sol ardente. As flores embelezavam o parque e ainda traziam um agradável aroma. Crianças brincavam. E outras pessoas...corriam.
Dafne foi até o local onde viu a orelha decepada. Era próximo a um lago de peixes que ficava no centro do parque. Dessa vez, ainda no mesmo local, agora ela notou uma mão, que movia-se sem um dos dedos. Sua curiosidade aguçou-se ainda mais pelo fato de um casal de idosos estarem sentados em um banco do qual se podia ver aquilo.
- Com licença. Dafne interrompeu o romance do casal. Vocês não estão vendo isso?
- Isso, o que? O homem respondeu.
- Tem uma parte de um corpo aqui. Uma mão. Esta se mechendo.
- Não estamos vendo nada por aqui além dessa bela paisagem moça. Acho que você não está muito bem. Disse a mulher.
Dafne não estava acreditando. Aquela história estava se tornando cada vez mais intrigante e apavorante ao mesmo.
- Como assim vocês não vêem? Ontem eu vi uma orelha, hoje uma mão. Esse parque não é o mesmo. Tem algo muito sinistro aqui. Por que só eu vejo?
O casal levantou-se e foram embora, deixando Dafne para trás com a cabeça cheia de interrogações. Ninguém acreditava nela.
No fim da noite, Dafne chegou ao seu apartamento. Abriu a porta e encontrou todas as respostas para suas questões logo à sua frente. Dessa vez teve uma recepção não tão agradável como a que seu cão sempre fazia. O chão estava sujo de sangue. Tentou gritar, mas a porta trancou-se antes que isso pudesse ser feito. Sua mão também estava com sangue, mas ainda não havia o tocado.
Talvez Dafne iria preferir acreditar que tudo era imaginação se soubesse que aquilo, um dia, poderia acontecer.