A miscigenação faz do brasileiro o povo mais bonito do mundo — pensou — essa mistura de raças não ocorria entre os nativos do Brasil, que, embora inseridos em costumes e línguas de diferentes nações, mantinham entre si caracteres genéticos comuns a todas as raças: cabelos negros corridos, escorridos na testa e porte atlético como se todos fossem filhos de Touro Sentado. Seriam os índios descendentes de caçadores,  de náufragos ou de Caim? Ela mesma tinha um pé na selva e outro na paia.
A índia maxacali, chegara em Campo Grande, com uma aió   amarrada na cintura.  E dentro dela, um osso humano. Pensou-se que ela fosse canibal, e guardava a lembrança do último repasto. A suspeita caiu por terra, no dia  em que, ouvindo Zé Coco executar “Saudade de Mirabela’,  acompanhou a música com aquele osso, que mais tarde se soube tratar-se de uma cangoeira. 
Chamou o garçom.
 Jerônimo  veio  trazendo a conta.

— Mais uma  farofa de Tatu, por favor!
— Haverá um dia em que será proibido matar animais selvagens.
— Será,  dona Angélica?
— Acho que Deus criou animais domésticos. Os que fugiram da convivência com o homem é que se tornaram selvagens — Arrematou Adilson.
— Também deve ter sido do mesmo modo com os humanos: os que fugiram da presença de Deus se tornaram selvagens.
— É  por isso que existe  índio, dona Angélica?
— Não! É por isso que existem pecadores!


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Adalberto Lima - fragmentos de Estrada sem fim...
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