O Conclave Das Gralhas

Eu disse conclave das gralhas? ... Ó sim lhe darei um mistério sobre elas. Uma estória instigante, talvez eu seja pago pra isto sabe, pra contar essas histórias que ninguém conta, onde todos possuem receio ou medo de tocar, eu quebro paradigmas.

Ou pelo menos tento.

Mas voltemos ao principal, sim as gralhas ou “corvus frugnegus” em latim, um termo muito usado para tagarela, falador ou grita alto, mas também pode ser que seja um erro tipográfico.

As gralhas são as mais sociais das Corvidae (linhagem das gralhas), elas fazem seus ninhos em gralhais desfolhados e secos, com centenas de pássaros em cada árvore. Alguns dizem que cada árvore equivale a uma família de prestigio delas, ou seja, desde a maior árvore até a menor representa a força que tal clã possui na comunidade.

Elas podem imitar a fala humana e têm linguagem suficiente para que até os humanos possam saber a diferença entre seus gritos normais e os de perigo. Elas possuem uma habilidade impar da qual só os gatos compartilham com as mesmas, á de tramitar entre os dois mundos, tanto o físico quanto o espiritual.

Mas há algo além disto, além de rondar por entre as existências, além de levar e trazer mensagens para almas afortunadas ou corpos fadigados, existe o mistério.

É um do qual nomenclaturamos para o coletivo dessas aves como uma morte grupal, desamor de corvos, briga de gritos ou conclave de gralhas, algo que ocorre uma vez a cada um ano, um dia de retaliação e vingança para alguns.

Agora sim depois de tanto rodeio irei lhe mostrar o principal.

Imagine um campo vazio, uma planície vasta, longe da cidade isolada do mundo e acessível apenas a estes animais místicos. Subitamente o céu se envolve em um negrume de pássaros, eles caem como uma chuva negra rasgando sobre o plantio verde, cobrindo-o completamente ou parcialmente. No centro do gramado há um espaço em forma circular que fica vazio, para um grã-mestre ou a gralha pertencente a maior das famílias ir ao centro fazer um desafio, chamar por assim dizer os rivais para discursarem. Geralmente esses rivais são de linhagens secundarias que ameaçam o posto das maiores das gralhas, e bem no meio fica a gralha escolhida um líder de um clã menor (quem disse que as gralhas não agem como humanos mentiu pra você) ela pia, grita e pia um pouco mais... Seus gritos invadem os céus, suas penas ficam úmidas e brilham ao sol por conta do esforço o bico amolece e o discurso só acaba de fato com o fadigar total da ave.

Do outro lado milhares de pequenos olhos a observam fixamente, olhares frios e de questionamento, muitas vezes outras aves gritam também questionando algo, como em uma grande audiência. E a gralha solitária continua a piar em resposta às perguntações, isso pode durar horas seja do amanhecer até o crepuscular, porém só existe duas formas disso acabar.

A um sinal que eu não sei como descrever para todas que estão ao redor, ou as gralhas alçam voo de forma simultânea como uma grande legião sincronizada, cada uma voltando para suas ramificações familiares, deixando assim o corvo para trás após ouvi- lo...

Ou caem sobre a pobre ave, bicando-a até seu derradeiro fim, é isto que acontece.

Resposta.

Nada é o que parece, não é um conclave ou um julgamento. A gralha que está no meio é uma contadora de histórias, ela está contando uma história para as outras.

No fim, isto é, quando ela termina, descobre se todas as outras gostaram ou não do seu conto.

Matheus Lacerda
Enviado por Matheus Lacerda em 26/10/2016
Reeditado em 28/01/2019
Código do texto: T5803919
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