A FILHA DESCONHECIDA

A MÃE JA IDOSA E DOENTE, TELEFONAVA, PARA A FILHA, PORQUE NÃO SUPORTAVA MAIS A SAUDADE. MAS ESTA ESTAVA SEMPRE OCUPADA. NUNCA TINHA TEMPO PARA ENCONTRAR A MÃE. UMA MÃE, QUE FIZERA DE TUDO, PARA QUE A FILHA ESTUDASSE E SE FORMASSE. MAS AGORA A FILHA PARECIA, SER UMA OUTRA PESSOA. ARREDIA E DISTANTE.

POBRE VELHINHA, EU A CONHECI. FICOU DOENTE DE SAUDADES. NÃO CONHECI A FILHA DE DONA IDALINA, SO VI ALGUMAS FOTOS.

CONHECI ESTA SENHORA, NUM PONTO DE ÔNIBUS A SOLUÇAR. HAVIA UMA TRISTEZA TÃO GRANDE EM SEUS OLHOS, QUE ERA DE CORTAR, O CORAÇÃO. CONVERSEI COM ELA. FIQUEI COM MUITA PENA DESTA SENHORA. O ÔNIBUS CHEGOU E EMBARCAMOS.

SENTAMOS PRÓXIMA E ELA COMEÇOU A ME CONTAR. FALOU QUE A FILHA ERA LINDA E INTELIGENTE COMO NINGUEM. ME MOSTROU ALGUMAS FOTOS AMARELADAS, QUE CARREGAVA DENTRO DA BOLSA.

MUITO BONITA A MOÇA DAS FOTOS. CABELOS NEGROS, COMO A NOITE, OLHOS VERDES E MISTERIOSOS, CORPO DE BAILARINA, E UM AR DE PRINCESA.

A SENHORA SE SENTIA MUITO SÓ. ME DEU SEU TELEFONE E EU LIGUEI E FUI VISITA LA VARIAS VEZES. ELA MORAVA SÓSINHA, NUM CASARÃO VELHO, COM ARES DE ASSOMBRADO. MUITO SIMPÁTICA, ME OFERECIA CAFÉ E BOLO DE FUBA. FICAMOS AMIGAS.

NUMA MADRUGADA FRIA E CHUVOSA RECEBI UM TELEFONEMA, DE UM PARENTE DELA, QUE ESTA, ESTAVA NO HOSPITAL COM INFARTO. NA VERDADE QUANDO CHEGUEI AO LOCAL ELA JA ESTAVA EM ÓBITO.

NO VELÓRIO, FIQUEI CURIOSA PARA CONHECER A MOÇA DO RETRATO. MAS JA TARDE DA NOITE, COMO ELA NÃO APARECIA, RESOLVI INDAGAR, COM ALGUM FAMILIAR DA MESMA. QUAL NÃO FOI MINHA SURPRESA, AO ME CONTAREM QUE DONA ERNESTINA NÃO TIVERA FILHOS. FALEI DA MOÇA DO RETRATO. SIM TODOS SABIAM QUE ELA DIZIA TER UMA FILHA, QUE MORAVA EM LONDRES. MAS QUE NÃO ERA VERDADE. INDAGUEI AINDA DE ONDE ACHARA AS FOTOS?

NINGUEM SABIA AO CERTO. FIQUEI INTRIGADA.

PASSADO UM MES FUI FAZER UMA VISITA AO CEMITÉRIO, E LEVAR ALGUMAS FLORES, PARA MINHA AMIGA. NOTEI ROSAS VERMELHAS E FRESCAS NO SEU TÚMULO. AO LONGE REPAREI NUMA JOVEM DE CABELOS NEGROS, MUITO BEM VESTIDA. NÃO RESISTI E FUI ATRAS. MARCELA CHAMEI, ESTE ERA O NOME DA FILHA QUE DONA IDALINA DIZIA TER. ELA PAROU, SE VIROU PARA MIM. A MESMA MOÇA DA FOTO. LINDISSIMA. PARECIA UMA PINTURA. FIQUEI ATÔNITA, NÃO SABIA OQUE FALAR. ELA SORRIU E SEU ROSTO SE ILUMINOU, FICANDO AINDA MAIS BELA. CONHECI SUA MÃE. BALBUCIEI. ELA CONTINUOU SORRINDO E ME DISSE, EU SEI.

MAMÃE FALAVA SEMPRE DE VOCÊ. TINHA SUAS FOTOS NA BOLSA. COMO ASSIM PERGUNTEI. ELA TINHA O HÁBITO DE GUARDAR FOTOS DE PESSOAS MORTAS NA SUA BOLSA. E FOI SE EVAPORANDO NA MINHA FRENTE.