(Imagem Google)
Espírito Cigano
https://www.youtube.com/watch?v=isqzKtkDRmo
"Há mais mistérios entre o Céu e a Terra
do que sonha a nossa vã filosofia"
(William Shakespeare)
Espírito Cigano
https://www.youtube.com/watch?v=isqzKtkDRmo
"Há mais mistérios entre o Céu e a Terra
do que sonha a nossa vã filosofia"
(William Shakespeare)
Um corpo jazia na cama. Não haviam sinais de tortura, violência e nada que pudesse atestar uma morte sofrida. Apenas um corpo estendido na cama, com os olhos abertos, fitando o teto, como que procurando, em algum ponto do infinito, respostas para as perguntas que, inconscientemente, tivesse feito a si mesmo e nos lábios o frio silêncio das palavras que não pôde expressar o que havia sentido, antes do derradeiro suspiro, porém, tinha um semblante tranquilo e quem, por ventura, conheceu a sua história podia afirmar que ele morreu feliz.
Paulo era um homem maduro, com os seus quarenta e cinco anos, bem vividos, não era praticante de nenhuma religião, mas, acreditava em Deus e em vida após morte. Sua mãe o havia criado dentro dos preceitos da doutrina espírita, mas, à medida em que ele foi crescendo, ela deixou que ele seguisse o seu caminho espiritual com total liberdade, sem interferir nas suas crenças.
Era um homem bonito, inteligente, educado, carismático e tinha um sorriso irresistivelmente encantador, que conquistava todas as mulheres desavisadas da sua fama de conquistador. Solteiro, por opção, porque dizia que ainda não havia encontrado uma mulher que o tivesse “fisgado”, mesmo porque, ao menor sinal de apego ele se distanciava, com classe e elegância. Ele tinha consciência do frisson que causava no mulherio, mas não era insensível e irresponsável, apenas queria viver a vida intensamente, sem criar laços e vínculos que lhes pudessem tirar a liberdade que ele tanto preservava.
Um sonho ambulante era Paulo e, para o delírio das mulheres, era um exímio dançarino. Dançava divinamente e era muito disputado nos bailes que aconteciam na sede do clube mais antigo da cidade, todos os fins de semana. A dama, nos seus braços, levitava e se deleitava com seu olhar fixo e sedutor, que provocava arrepios. Paulo era o centro das atenções e sempre se vestia de acordo com a temática do baile, em que os frequentadores se esmeravam nos figurinos.
Noite escura, fria e chuvosa, mas aquele sábado prometia uma noite divertida, como todas as demais em que Paulo passava com os amigos nos bailes. O tema daquele baile era “Uma Noite Cigana” e ele chegou ao salão por volta das vinte e duas horas.
O salão já estava lotado e homens e mulheres trajavam à caráter, dando um colorido especial ao evento. Mas Paulo se destacava entre eles. Ele não estava apenas caracterizado, ele era a própria magia cigana. Camisa branca, aberta, exibindo uma corrente dourada no peito semi nu, bandana vermelha na cabeça, brinco de argola em uma das orelhas, um pequeno chapéu preto com uma rosa vermelha do lado, calças pretas com lenço vermelho na volta toda da cintura e botas pretas até a altura dos joelhos, lhes conferiam um impecável manequim.
Todos se divertiam ao som de uma banda famosa e a alegria era contagiante. Paulo dançava com todas as mulheres que conhecia e por isso dedicava a cada uma apenas uma volta no salão, o que as entristeciam.
Ao final de uma seleção, no auge do evento, o locutor anunciou que haveria uma apresentação de dança cigana, coreografada por uma equipe de dançarinos de uma escola de dança da cidade; a banda silenciou, todos que dançavam voltaram para as suas mesas e ao som de violinos, moças e rapazes caracterizados tomaram conta do salão apresentando uma linda dança típica do povo cigano, contagiando com a sua alegria e sorriso nos rostos.
Paulo assistia o grupo distraidamente até notar o olhar sedutor de uma dançarina para ele. No início ele achou que era sua imaginação, mas, o olhar daquela cigana era tão intenso que chegava a lhe queimar por dentro. Parecia uma miragem aquela bela moça toda vestida de vermelho, esvoaçante, e sorriso cativante. Paulo, por um momento, teve a sensação que em torno dela havia uma luz que a envolvia. Foi quando ela se aproximou dele, dançando a dança do lenço, que representa união, casamento e amor, segundo a crença gitana. Ela segurava nos dedos , delicadamente, o lenço, envolvendo-a de mistério e aos poucos revelando sua beleza e poder. Em cada movimento executado, seus desejos, sentimentos e sonhos eram movidos pelo deslizar do lenço pelo ar, no transe da música, livre como o vento e infinito como o céu. Paulo nunca tinha visto uma dança cigana feminina tão sensual como também aquele sorriso doce e sedutor daquela bela mulher.
Sandra sabia encantar e havia encantado Paulo. Em movimentos leves, pegou a sua mão e o levou para o centro da roda que se formava pelos outros bailarinos e eles dançaram, improvisadamente, mas tão harmonicamente e em perfeita sincronia que parecia que haviam ensaiado para aquela apresentação. Olhos nos olhos, sorrisos abertos, corações pulsantes, corpos se roçando e música suave, que entrava pelos poros dando-lhes leveza nos movimentos, complementavam a magia do momento.
Terminada a apresentação, Sandra agradeceu-lhe e se juntou ao grupo. Paulo não teve tempo para dizer a ela o quanto estava enfeitiçado pela sua beleza, mas não queria perdê-la, algo dentro dele estava mudando e sabia que não era apenas atração física, era algo que ele até então desconhecia: de uma forma inexplicável, ele sentia que amava aquela mulher. Foi, então, em direção ao camarim e abordou Sandra, que sorriu ao vê-lo aproximar-se.
Paulo não ficaria para o término do baile, ofereceu-se para levar Sandra para casa porque ele queria conhece-la melhor e sair o quanto antes do clube. Sandra aceitou o convite e os dois se dirigiram para a saída, em direção ao estacionamento. Era uma madrugada fria e Paulo, acomodando Sandra no banco do carro, colocou sobre ela o seu casaco, que havia deixado no banco traseiro. Dirigiram-se para a casa de Sandra, conversando sobre futilidades e lá chegando, ela desceu, despediu-se dele com um beijo no rosto e por insistência dele, levou consigo o casaco, dizendo –lhe que o devolveria na primeira oportunidade. Repentinamente, Paulo tirou do chapéu a rosa vermelha, beijou-a e a ofereceu a Sandra, que agradeceu com seu belo sorriso.
O rapaz foi para casa, impressionado com a garota e sonhou com ela, um sonho lindo, diferente de todos os sonhos, um sonho real.
Acordou pensando nela, ou ainda sonhando com ela, e queria vê-la novamente. Lembrou-se, então, que havia deixado o seu casaco com ela e pensando nessa desculpa, dirigiu-se à sua casa, com o coração palpitante de alegria.
Chegando à casa, tocou a campainha esperando que Sandra fosse atendê-lo, mas ao invés dela, foi recebido por Valéria, sua mãe.
Apresentou-se, então, e disse-lhe que gostaria de falar com Sandra, que ele havia conhecido na noite anterior. Valéria, ao ouvir o nome da filha e o relato de Paulo, cambaleou e se não fosse amparada por ele, com certeza, cairia no chão, pelo susto que levou. Paulo não entendeu a reação da senhora, que pediu que ele a acompanhasse até a sala da casa. Lá chegando, ela apanhou um porta retratos em cima de um móvel e o mostrou para Paulo, dizendo:
- A moça com quem o senhor esteve ontem, era essa?
- Sim, Paulo respondeu, com uma interrogação no rosto pálido.
- Paulo, esta moça é Sandra, minha filha, que faleceu há um ano, indo para um baile com os amigos. Era noite, havia chovido, o carro derrapou na estrada, capotando e ela teve morte instantânea. Os outros ocupantes do carro sobreviveram, mas ela não teve essa sorte.
Paulo era um homem maduro, com os seus quarenta e cinco anos, bem vividos, não era praticante de nenhuma religião, mas, acreditava em Deus e em vida após morte. Sua mãe o havia criado dentro dos preceitos da doutrina espírita, mas, à medida em que ele foi crescendo, ela deixou que ele seguisse o seu caminho espiritual com total liberdade, sem interferir nas suas crenças.
Era um homem bonito, inteligente, educado, carismático e tinha um sorriso irresistivelmente encantador, que conquistava todas as mulheres desavisadas da sua fama de conquistador. Solteiro, por opção, porque dizia que ainda não havia encontrado uma mulher que o tivesse “fisgado”, mesmo porque, ao menor sinal de apego ele se distanciava, com classe e elegância. Ele tinha consciência do frisson que causava no mulherio, mas não era insensível e irresponsável, apenas queria viver a vida intensamente, sem criar laços e vínculos que lhes pudessem tirar a liberdade que ele tanto preservava.
Um sonho ambulante era Paulo e, para o delírio das mulheres, era um exímio dançarino. Dançava divinamente e era muito disputado nos bailes que aconteciam na sede do clube mais antigo da cidade, todos os fins de semana. A dama, nos seus braços, levitava e se deleitava com seu olhar fixo e sedutor, que provocava arrepios. Paulo era o centro das atenções e sempre se vestia de acordo com a temática do baile, em que os frequentadores se esmeravam nos figurinos.
Noite escura, fria e chuvosa, mas aquele sábado prometia uma noite divertida, como todas as demais em que Paulo passava com os amigos nos bailes. O tema daquele baile era “Uma Noite Cigana” e ele chegou ao salão por volta das vinte e duas horas.
O salão já estava lotado e homens e mulheres trajavam à caráter, dando um colorido especial ao evento. Mas Paulo se destacava entre eles. Ele não estava apenas caracterizado, ele era a própria magia cigana. Camisa branca, aberta, exibindo uma corrente dourada no peito semi nu, bandana vermelha na cabeça, brinco de argola em uma das orelhas, um pequeno chapéu preto com uma rosa vermelha do lado, calças pretas com lenço vermelho na volta toda da cintura e botas pretas até a altura dos joelhos, lhes conferiam um impecável manequim.
Todos se divertiam ao som de uma banda famosa e a alegria era contagiante. Paulo dançava com todas as mulheres que conhecia e por isso dedicava a cada uma apenas uma volta no salão, o que as entristeciam.
Ao final de uma seleção, no auge do evento, o locutor anunciou que haveria uma apresentação de dança cigana, coreografada por uma equipe de dançarinos de uma escola de dança da cidade; a banda silenciou, todos que dançavam voltaram para as suas mesas e ao som de violinos, moças e rapazes caracterizados tomaram conta do salão apresentando uma linda dança típica do povo cigano, contagiando com a sua alegria e sorriso nos rostos.
Paulo assistia o grupo distraidamente até notar o olhar sedutor de uma dançarina para ele. No início ele achou que era sua imaginação, mas, o olhar daquela cigana era tão intenso que chegava a lhe queimar por dentro. Parecia uma miragem aquela bela moça toda vestida de vermelho, esvoaçante, e sorriso cativante. Paulo, por um momento, teve a sensação que em torno dela havia uma luz que a envolvia. Foi quando ela se aproximou dele, dançando a dança do lenço, que representa união, casamento e amor, segundo a crença gitana. Ela segurava nos dedos , delicadamente, o lenço, envolvendo-a de mistério e aos poucos revelando sua beleza e poder. Em cada movimento executado, seus desejos, sentimentos e sonhos eram movidos pelo deslizar do lenço pelo ar, no transe da música, livre como o vento e infinito como o céu. Paulo nunca tinha visto uma dança cigana feminina tão sensual como também aquele sorriso doce e sedutor daquela bela mulher.
Sandra sabia encantar e havia encantado Paulo. Em movimentos leves, pegou a sua mão e o levou para o centro da roda que se formava pelos outros bailarinos e eles dançaram, improvisadamente, mas tão harmonicamente e em perfeita sincronia que parecia que haviam ensaiado para aquela apresentação. Olhos nos olhos, sorrisos abertos, corações pulsantes, corpos se roçando e música suave, que entrava pelos poros dando-lhes leveza nos movimentos, complementavam a magia do momento.
Terminada a apresentação, Sandra agradeceu-lhe e se juntou ao grupo. Paulo não teve tempo para dizer a ela o quanto estava enfeitiçado pela sua beleza, mas não queria perdê-la, algo dentro dele estava mudando e sabia que não era apenas atração física, era algo que ele até então desconhecia: de uma forma inexplicável, ele sentia que amava aquela mulher. Foi, então, em direção ao camarim e abordou Sandra, que sorriu ao vê-lo aproximar-se.
Paulo não ficaria para o término do baile, ofereceu-se para levar Sandra para casa porque ele queria conhece-la melhor e sair o quanto antes do clube. Sandra aceitou o convite e os dois se dirigiram para a saída, em direção ao estacionamento. Era uma madrugada fria e Paulo, acomodando Sandra no banco do carro, colocou sobre ela o seu casaco, que havia deixado no banco traseiro. Dirigiram-se para a casa de Sandra, conversando sobre futilidades e lá chegando, ela desceu, despediu-se dele com um beijo no rosto e por insistência dele, levou consigo o casaco, dizendo –lhe que o devolveria na primeira oportunidade. Repentinamente, Paulo tirou do chapéu a rosa vermelha, beijou-a e a ofereceu a Sandra, que agradeceu com seu belo sorriso.
O rapaz foi para casa, impressionado com a garota e sonhou com ela, um sonho lindo, diferente de todos os sonhos, um sonho real.
Acordou pensando nela, ou ainda sonhando com ela, e queria vê-la novamente. Lembrou-se, então, que havia deixado o seu casaco com ela e pensando nessa desculpa, dirigiu-se à sua casa, com o coração palpitante de alegria.
Chegando à casa, tocou a campainha esperando que Sandra fosse atendê-lo, mas ao invés dela, foi recebido por Valéria, sua mãe.
Apresentou-se, então, e disse-lhe que gostaria de falar com Sandra, que ele havia conhecido na noite anterior. Valéria, ao ouvir o nome da filha e o relato de Paulo, cambaleou e se não fosse amparada por ele, com certeza, cairia no chão, pelo susto que levou. Paulo não entendeu a reação da senhora, que pediu que ele a acompanhasse até a sala da casa. Lá chegando, ela apanhou um porta retratos em cima de um móvel e o mostrou para Paulo, dizendo:
- A moça com quem o senhor esteve ontem, era essa?
- Sim, Paulo respondeu, com uma interrogação no rosto pálido.
- Paulo, esta moça é Sandra, minha filha, que faleceu há um ano, indo para um baile com os amigos. Era noite, havia chovido, o carro derrapou na estrada, capotando e ela teve morte instantânea. Os outros ocupantes do carro sobreviveram, mas ela não teve essa sorte.
Paulo desabou no sofá, não querendo acreditar no que acabara de ouvir. Valéria, então, levantou-se e pediu que ele a acompanhasse até o túmulo da filha. Paulo não havia percebido, na noite anterior, que ela morava em uma rua lateral do cemitério da cidade. Eles se dirigiram, a pé, até o local, passaram por uma alameda comprida e arborizada, e pararam em frente ao jazido da família.
Petrificado, desta vez foi Paulo a quase perder as forças nas pernas ao ver, em cima do túmulo, o seu casaco, com a rosa vermelha sobre ele......
No camafeu cravado no túmulo, já perdendo a cor pelas intempéries do tempo, Sandra sorria...havia encontrado a sua alma gêmea, o seu amor gitano, aquele que a vida havia lhe negado por ter sido interrompida tão tragicamente...e ela estava certa!
Mistério!!.....
Petrificado, desta vez foi Paulo a quase perder as forças nas pernas ao ver, em cima do túmulo, o seu casaco, com a rosa vermelha sobre ele......
No camafeu cravado no túmulo, já perdendo a cor pelas intempéries do tempo, Sandra sorria...havia encontrado a sua alma gêmea, o seu amor gitano, aquele que a vida havia lhe negado por ter sido interrompida tão tragicamente...e ela estava certa!
Mistério!!.....
Obrigada pelo acesso. Deixe o seu comentário
para que eu possa retribuir o carinho da sua visita.
para que eu possa retribuir o carinho da sua visita.