O Egito Antigo

Era mais uma noite escura,sem o desenho das estrelas. A lua não reinava ali.Nuvens cinzas encobriam o céu.A rua era calma,silenciosa.Os mortos pareciam descansar em paz, era pouco verdade. Os mortos jamais descansam em paz.

Uma coruja desenvolvia vôos razantes,até que se acalmou num canto- devorava um rato calunga-que tinha mais cauda do que corpo.Não queria lhes dizer,mas o vento sacudia as copas das árvores.Fazia um bailado que lembrava as passadas de uma bailarina no piso de madeira de lei envernizada,preparada para o desenrolar dos passos de ballet .Uma sinfonia delirante,agourenta.Uma chuva fina se pronunciava.Todos os clichês se desgastaram,em pouca luz literária.A visão dos túmulos antigos,carcomidos pelo passar dos séculos o deixavam atormentado.A plebe rude surgia do nada.Riam e o apontavam,com deboche.Ele ficava enfurecido e bradava,aos berros:

- Era no Egito que existia o primeiro estado unificado e de grande porte.Durou mais de 3000 anos.

Em resposta ouviam-se uma ensurdecedora sinfonia de risos,de deboche.Ele não se rendia,e dava prosseguimento:

- Os egipcios acreditavam que o KA,o espírito do faraó era imortal.Pode-se ver isso nas muitas pinturas feitas nos túmulos dos faraós.

Uma risada soou,do nada.Emendou assim:

- Sim,pinturas fiéis à figura humana.Não esquecemos as figuras humanas representadas com a visão frontal dos olhos e dos ombros.A cabeça,braços e pernas,sempre de perfis. Não eram obras de ilustradores medíocres.Havia ali uma filosofia faraônica em apontar o singelo-o olhar penetrante daquele que comanda,usa e abusa no expressar no que seja importante notar na figura humana.

-Não esqueçamos que as pinturas dos Faraós eram,sempre de dimensões maiores do que dos serviçais,do que o povo.Foram feitas para que durassem para sempre,eternamente.

-Sim,eram feitas de granito,ou de diorito.Com uma anatomia humana bem aproximada da anatomia real.O mais importante era revelar quem mandava,e quem devia obedecer.

Os risos,de deboche continuavam,de forma insistente.Até que ergueu um dos braços e olhou a todos com expressividade.Rodopiou nos calcanhares,e agitou os braços,com força,de punhos fechados.Gritava,sem pudores na voz:

- Tinhamos uma obsessão pela eternidade da alma.Sempre se acreditou na sobrevivência da Alma.Acreditávamos na eternidade da vida após a morte.E,era importante levar para o tumulo os pertences e até riquezas-quem sabe,os serviçais...

Os risos pipocaram.Até que um deles,aos berros se pronunciou:

- Acreditavam que os Faraós eram eternos-eram deuses.Ora,até uma réplica do seu corpo era preparado em estátua para que lhe servisse de novo habitat. Aqui,um corpo de carne e osso,após a morte uma estátua feita pelo mais nobre dos escultores...

Riram,por minutos,com deboche.Um deles,emendou falando assim:

-A arquitetura monumental e as muitas obras de arte tinham por função manter pela eternidade as glórias dos nossos faraós. Hoje,sabemos que todos têm o direito à vida após a morte.Seja ele,Faraó,ou plebeu.Sem que precise registrar os seus feitos em obras de arte numa arquitetura de matar de inveja,ou em obras feitas para que durem eternamente. E todo o ouro fica aqui...com os tolos.

Mais risos,por longos minutos.O deboche era ensurdecedor.A diferença em vibração poupavam os encarnados daquele desfecho macabro e misterioso-caso habitassem próximo dali,ou fosse dia,e estivessem visitando o local histórico daquela parte do antigo Egito.Não se dando por vencido,rebateu assim:

- Como ja disse por muitas vezes.A grande preocupação da arte no Antigo Egito era garantir a vida após a morte dando conforto ao espírito dos soberanos.

-Sim,e o seu estilo de vida era retratado,em pinturas,e em hieroglifos.

Mais risos pipocavam,por todos os cantos.Alguém perguntou,com deboche:

Cadê o Faraó.....onde se encontram os seus fiéis nobres...viraram deuses,ou estão aqui conosco envergonhados...

Risos.Muitos risos.Amanhecia.A coruja repousava num galho da velha árvore.O que sobrara do rato,apenas o rabo fino e minúsculo estava no chão.A chuva insistia,o vento,também,sacudia as copas das árvores.As nuvens se dissiparam.A lua cheia surgia imponente.Uma verdadeira Deusa da noite.Brilhava sem que precisasse provar ser eterna.Iluminava a tudo e a todos sem que precisasse ter luz própria.Irradiava a luz do sol,com imponência,assim como os faraós se utilizaram das artes dos talentos artistas do Antigo Egito para tirarem o proveito da eternidade da vida após a morte criando monumentos imponentes e desenhos estilizados que pudessem retratar os seus feitos pelos séculos vindouros para os povos que surgissem beirando o rio Nilo,Tigre,ou Eufrates-que os seus feitos beirassem a Mesopotâmia,na Grécia,ou até mesmo em Roma .Alguém falou assim em alto tom:

-Que a antiga Roma aguarde a invasão dos bárbaros, dos vândalos,então,aprenderá que nenhum reinado dura para sempre...

Riram bastante.

LG

Pesquisa:História Geral da Arte- O Mundo Antigo e a Idade Média

Autor:janson,Horst Woldemar