Bruxa, anônima, sempre com aquele ar misterioso e pedinte. Era tão baixa, mas não tanto quanto os anões, mas era quase como as mulheres antigas do fundo da floresta. Trazia até a forma, o nariz, o olhar... Suas mãos pareciam trazer garras e não dedos.
Andava por toda a cidade de Viamão. Entrava em todos os comércios. Sempre estava a pedir. Muitos lhe conheciam. Todos os que saiam às ruas lhe conheciam.
Tinha muito dinheiro, trazia-o sempre dividido dentro das peças de roupa.
Para certas pessoas, essa senhora era sem vergonha, para outras, era esperta. Entre sem vergonha e esperta, quem ela será? Louca, talvez? Com certeza, a loucura não lhe faltava, afinal coragem para sair todos os dias com o sol de 40ºC ou com o frio de 4ºC, com as chuvas torrenciais ou o cortante minuano, isso ela tinha de sobra.
Certa vez, andando pelas ruas detrás do cemitério, um grupo de estudantes resolveu "explorar" melhor a área, testando a coragem de cada um. Já eram quase seis da tarde.
Entraram por uma rua que só descia e, aparentemente, as outras só subiam. Chegando próximo ao fim da rua, os jovens enxergavam uma grande construção iluminada.
Foram se aproximando cada vez mais da construção, pois tentavam definir os sons que saiam por suas janelas.
A construção era tão grande, era térrea, cheia de janelas e portas. Ao redor de um imenso jardim bem cuidado, com árvores frutíferas bem podadas.
- Mas será um hotel? Mackely.
- Que lugar mais estranho para um hotel! - exclamou Yasmin.
- Pega o telefone, alguém, e vê se tem sinal e vê se o Google identifica o local! - bradou Tainá.
- Sem sinal!
- Sem sinal!
- Sem sinal!
- O meu descarregou!
Já era bem escuro quando se deram conta do perigo e da possível necessidade de ter que chamar por socorro e não terem nenhum sinal.
Sem que tivessem notado, ao entrar no terreno desta construção, passaram por portões que estavam antes tão abertos que eram imperceptíveis. De repente, ouviram-nos fechar. O desespero se instalou nos amigos que agora se viam rodeados por muros gigantes e portões lanceados.
- Será que agora virão os cachorros? - gaguejou João.
- Nem pense nisso! Só o que nos faltava era isso! remendou Mackely.
Yasmin não tirava os olhos de dentro da casa. Tentava observar se havia algo de perigoso lá dentro. Será que poderiam bater lá e contar alguma história? Será que conseguiriam sair de lá?
De repente uma porta se abriu e de lá saiu um homem todo de branco. Ele acendeu um cigarro e se escorou na parede. Logo a seguir, saiu atrás dele a mesma pedinte da cidade, só que toda de branco e muito arrumada por sinal. Parecia até que lhe dava ordens.
As janelas que antes eram escuras, acenderam de repente. João pudera ver dois homens auxiliando uma senhora a sair da cadeira de rodas e a ir para a cama.
- Um hospital?!
- Não, João! Deve ser um asilo. - disse Tainá.
- Acho melhor a gente ir logo lá e pedir para sair. Já são oito horas. Não sei nem o que dizer para o meu pai depois disso! - Temeu Yasmin.
- Mas quem vai bater?
- Quem vai falar?
- Eu bato, mas não falo!
- Alguém tem que falar. A gente tem que sair daqui!
João bateu à porta três vezes. Veio, por fim, um homem, o mesmo que estivera fumando há pouco.
- Quem são vocês?
- Moço - Começou Yasmin - A gente vinha caminhando, daí a gente entrou aqui e foi logo o portão fechou. A gente não encontrou outra saída senão pedir pro senhor ajudar a gente a sair.
Nesse instante, a mulher misteriosa surgiu.
- Guris curiosos! Agora vocês descobriram o meu segredo. Pelo tempo que estão rondando a casa já descobriram tudo! Carlos, o que você acha que eu devo fazer com eles, agora?
- Ai, dona! Não faz nada com a gente não! - choramingou João - A gente jura que não. A gente não sabe de nada, nem quem a senhora é!
- Mentira! Mas isso agora não importa mais. - mudando o tom da voz e abrindo um sorriso - Vejam que nem tudo o que parece é. A única forma que tenho de dar dignidade aos idosos sem família em nossa cidade é assim!
- Não era mais fácil pedir oficialmente doação para o asilo?
- Infelizmente, não. Pois para isso, precisaríamos envolver a prefeitura, que sempre dificulta as coisas e atravanca os trabalhos. E quando se fala em doações para asilos, as pessoas nunca acreditam que ficarão velhas um dia e poderão não ter quem as cuidem. Me faço de louca, bruxa e mendiga, ando por toda a cidade, todos os dias e mantenho este lar que eu mesma construí!
- Nossa! Soou em coro.
- Eu quero ajudar também!
- Eu também!
- Eu também!
- Eu também!
- Vocês já me ajudam se mantiverem o meu segredo, mas se querem fazer algo a mais, podem vir sempre uma tarde para ler para os idosos ou jogar dominó e cartas com eles. Mas têm que manter segredo!
- Combinado! Soou em coro.
- Carlos, leve os guris em casa. Diz que estavam fazendo trabalho voluntário, mas nas próximas semanas, será bem mais cedo o término.
 
Bruxa, anônima, sempre com aquele ar misterioso e pedinte. Era tão baixa, mas não tanto quanto os anões, mas era quase como as mulheres antigas do fundo da floresta. Trazia até a forma, o nariz, o olhar... Suas mãos pareciam trazer garras e não dedos.
Andava por toda a cidade de Viamão. Entrava em todos os comércios. Sempre estava a pedir. Muitos lhe conheciam. Todos os que saiam às ruas lhe conheciam.
Tinha muito dinheiro, trazia-o sempre dividido dentro das peças de roupa.
Para certas pessoas, essa senhora era sem vergonha, para outras, era esperta. Entre sem vergonha e esperta, quem ela será? Louca, talvez? Com certeza, a loucura não lhe faltava, afinal coragem para sair todos os dias com o sol de 40ºC ou com o frio de 4ºC, com as chuvas torrenciais ou o cortante minuano, isso ela tinha de sobra.
Certa vez, andando pelas ruas detrás do cemitério, um grupo de estudantes resolveu "explorar" melhor a área, testando a coragem de cada um. Já eram quase seis da tarde.
Entraram por uma rua que só descia e, aparentemente, as outras só subiam. Chegando próximo ao fim da rua, os jovens enxergavam uma grande construção iluminada.
Foram se aproximando cada vez mais da construção, pois tentavam definir os sons que saiam por suas janelas.
A construção era tão grande, era térrea, cheia de janelas e portas. Ao redor de um imenso jardim bem cuidado, com árvores frutíferas bem podadas.
- Mas será um hotel? Mackely.
- Que lugar mais estranho para um hotel! - exclamou Yasmin.
- Pega o telefone, alguém, e vê se tem sinal e vê se o Google identifica o local! - bradou Tainá.
- Sem sinal!
- Sem sinal!
- Sem sinal!
- O meu descarregou!
Já era bem escuro quando se deram conta do perigo e da possível necessidade de ter que chamar por socorro e não terem nenhum sinal.
Sem que tivessem notado, ao entrar no terreno desta construção, passaram por portões que estavam antes tão abertos que eram imperceptíveis. De repente, ouviram-nos fechar. O desespero se instalou nos amigos que agora se viam rodeados por muros gigantes e portões lanceados.
- Será que agora virão os cachorros? - gaguejou João.
- Nem pense nisso! Só o que nos faltava era isso! remendou Mackely.
Yasmin não tirava os olhos de dentro da casa. Tentava observar se havia algo de perigoso lá dentro. Será que poderiam bater lá e contar alguma história? Será que conseguiriam sair de lá?
De repente uma porta se abriu e de lá saiu um homem todo de branco. Ele acendeu um cigarro e se escorou na parede. Logo a seguir, saiu atrás dele a mesma pedinte da cidade, só que toda de branco e muito arrumada por sinal. Parecia até que lhe dava ordens.
As janelas que antes eram escuras, acenderam de repente. João pudera ver dois homens auxiliando uma senhora a sair da cadeira de rodas e a ir para a cama.
- Um hospital?!
- Não, João! Deve ser um asilo. - disse Tainá.
- Acho melhor a gente ir logo lá e pedir para sair. Já são oito horas. Não sei nem o que dizer para o meu pai depois disso! - Temeu Yasmin.
- Mas quem vai bater?
- Quem vai falar?
- Eu bato, mas não falo!
- Alguém tem que falar. A gente tem que sair daqui!
João bateu à porta três vezes. Veio, por fim, um homem, o mesmo que estivera fumando há pouco.
- Quem são vocês?
- Moço - Começou Yasmin - A gente vinha caminhando, daí a gente entrou aqui e foi logo o portão fechou. A gente não encontrou outra saída senão pedir pro senhor ajudar a gente a sair.
Nesse instante, a mulher misteriosa surgiu.
- Guris curiosos! Agora vocês descobriram o meu segredo. Pelo tempo que estão rondando a casa já descobriram tudo! Carlos, o que você acha que eu devo fazer com eles, agora?
- Ai, dona! Não faz nada com a gente não! - choramingou João - A gente jura que não. A gente não sabe de nada, nem quem a senhora é!
- Mentira! Mas isso agora não importa mais. - mudando o tom da voz e abrindo um sorriso - Vejam que nem tudo o que parece é. A única forma que tenho de dar dignidade aos idosos sem família em nossa cidade é assim!
- Não era mais fácil pedir oficialmente doação para o asilo?
- Infelizmente, não. Pois para isso, precisaríamos envolver a prefeitura, que sempre dificulta as coisas e atravanca os trabalhos. E quando se fala em doações para asilos, as pessoas nunca acreditam que ficarão velhas um dia e poderão não ter quem as cuidem. Me faço de louca, bruxa e mendiga, ando por toda a cidade, todos os dias e mantenho este lar que eu mesma construí!
- Nossa! Soou em coro.
- Eu quero ajudar também!
- Eu também!
- Eu também!
- Eu também!
- Vocês já me ajudam se mantiverem o meu segredo, mas se querem fazer algo a mais, podem vir sempre uma tarde para ler para os idosos ou jogar dominó e cartas com eles. Mas têm que manter segredo!
- Combinado! Soou em coro.
- Carlos, leve os guris em casa. Diz que estavam fazendo trabalho voluntário, mas nas próximas semanas, será bem mais cedo o término.
 
 
Marília Francisco
Enviado por Marília Francisco em 20/08/2016
Código do texto: T5733956
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