HOJE NÃO...
 

Juca tinha acabado de chegar ao ponto de ônibus onde costumava ficar todos os dias e para matar um pouco do seu tempo ocioso, tinha o hábito de ficar olhando os passageiros que desciam dos coletivos e que ali permaneciam, por alguns instantes, até a chegada de outros ônibus que os levariam embora.

Fazia isso rotineiramente e, nesse meio tempo, ele que não tinha quase nada para fazer quando retornasse para sua casa, ficava procurando conversas com as pessoas, principalmente se elas fossem do sexo feminino.

Num desses dias, ao sair do seu trabalho, parou no Bar da Esquina Solitária e ficou ali, por algum tempo, entre amigos, jogando conversa fora e já passava da meia noite quando ele decidiu ir embora.

Como de costume, seguiu na direção do seu ponto de ônibus habitual e ao chegar lá ficou a pensar:

- Seria muito bom se eu encontrasse alguém (uma garota, é claro) para eu conversar um pouco com ela até minha condução chegar. -  e respirou fundo em seguida.

De repente, como num passe de mágica, apareceu uma mulher no outro lado da rua que pelos traços esculturais de seu corpo, ele imaginou estar diante de uma sereia fora do seu habitat natural.

Para não perder tempo, já que sua condução poderia chegar alguns minutos depois, ele atravessou a rua e se aproximou sutilmente da figura feminina que estava ali de costas e, para dar início a uma conversa amistosa, perguntou:

- Você não tem medo de ficar sozinha, a essa hora da noite, num lugar ermo como este?

Ela virou-se timidamente, fixou seu olhar nos olhos do rapaz e, quase sorrindo, lhe respondeu :

- Hoje eu não tenho mais, mas quando eu estava viva e era uma pessoa de carne e osso assim como você ainda o é, eu tinha  um pouco de medo, sim.

Contam as más línguas que Juca ficou todo arrepiado, deu alguns passos para trás para se esquivar dela e nem esperou o ônibus que o levaria para sua casa naquele dia.


Alguns passageiros afirmaram que ele saiu correndo como um louco varrido e no dia seguinte teria pedido demissão de seu trabalho para nunca mais ter de passar por aquela rua.

A moça misteriosa que ele viu naquela noite teria aparecido outras vezes para alguns jovens galanteadores da região, principalmente quando eles estavam a passear nas proximidades de um cemitério que ficava a pouco menos de três quadras da empresa onde Juca trabalhava.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 14/07/2016
Reeditado em 05/09/2020
Código do texto: T5697873
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