LENDA DAS BRUXAS
A Bruxaria é a designação popular dada à prática da Grande Arte que é uma vertente de religiosidade que valoriza as divindades femininas.
Lá pras bandas do terceiro distrito de Canguçu, no lugar denominado “Rincão das Panelas”, havia um grupo de mulheres que praticava a Grande Arte, talvez até de forma empírica, sem nenhum aprendizado, eis que analfabetas. Eram todas da raça negra.
Não praticavam o mal!
Aquela região era policiada por um Subdelegado nomeado conhecido popularmente por “Moreno”, homem corajoso, racista e malvado, cuja diversão incluía torturas aplicadas às “bruxas”. Tais práticas levavam a que o mesmo cortasse com adaga os longos cabelos das mulheres negras dedicadas à Grande Arte.
Assim foi por longo tempo!
Um dia apareceu na região um homem jovem, nunca se soube de onde veio, tampouco para onde foi. Ele sabia de sua missão!
Foi que um dia, na localidade de “Coxilha do Fogo”, também no terceiro distrito, esse homem de postura estranha, atlética e destemida, com forte sotaque castelhano, se encontrou com o dito Subdelegado “Moreno” que, de pronto, lhe desafiou. Foram poucos segundos de combate. “Moreno” sacou do revólver e disparou impiedosamente contra o estranho. A cada tiro que “Moreno” desferia era um tombo que levava pela pronta ação do jovem de fala estranha.
No final, sem munição e sem tempo de recarregar a arma, “Moreno” foi alvo de surra sem precedentes impingida pelo “paisano” que, segundo dizem, tempos depois causou a morte do valentão policial.
Segundo a crença popular, a vinda do estranho teria sido provocada pela Grande Arte praticada pelas vítimas de “Moreno”, as bruxas do “Rincão das Panelas”.
Acreditava-se ainda que numa celebração ritualística anual, a comunidade das “bruxas negras” invocava o espírito do Subdelegado “Moreno” para vingar-se de todas as maldades que ele em vida havia praticado.
Diziam os mais velhos que residiam próximo ao “Rincão das Panelas”, que nas noites de tal ritual era possível ouvirem gritos de horror identificáveis como saídos da boca de “Moreno”.