O DIA DA MINHA MORTE
Encontrava-me assentado na cadeira de balanço colocada ao
lado do muro do alpendre onde eu podia ver a entrada de cada
pessoa ao adentrar pelo espaçoso quintal florido e arborizado
em minha casa de campo afastada da vida corrida da cidade
grande e das pessoas agitadas pelo trabalho do labor diário.
Ela veio adentrando o mesmo caminho que muitos já tinham
vindo para me visitar. Ela estava magnificamente bela dentro
do seu negro vestido que lhe revelava as curvas atraentes e
sedutoras e agora sorrindo disse-me ao se aproximar:
_ Vim finalmente dizer a ti meu querido...
_ Esperei tanto por esse dia...
Falei tentando esconder a emoção que sentia naquele momento.
_ Por sua causa estou usando o meu melhor vestido...
Da presença dela perto de mim emanava um perfume suave e
que me fazia pensar no quanto ela era de fato muito atraente
se não fosse por um fato inusitado que podia incomodar tanto.
Aquela bela mulher a minha frente era em pessoa a "Mora Tis
Mortis" ou seja para quem não sabe o significado: "Morada da
Morte" em latim.
_ Todas as outras vezes que você esteve aqui não consegui
esquecer-te...
Falei para a morte e ela me devolveu um sorriso encantador
que me trouxe mais paz na alma do que medo.
_ Meu querido escritor!
_ Te amo tanto!
Essa outra exclamação dela me penetrou a alma deixando-me
mais leve e fazendo eu sentir que pisava um chão macio.
_ Você veio hoje para me levar contigo...
Falei aguardando a resposta daquele lábio que usava um batom
roxo escuro e que fazia eu querer beijar aquela boca atraente.
Confesso que estou apaixonado e atraído por "Mora Tis Mortis".
_ Como eu dizia-lhe no principio quando aqui cheguei...
Ela aproximou sua boca gostosa aos meus ouvidos e pronunciou
em voz baixa algumas palavras e fiquei sabendo naquela hora o
dia certo da minha morte.
Depois "Mora Tis Mortis" beijou minha boca com avidez e senti
o corpo dela estremecer de um súbito prazer.
_ Como disse-lhe antes meu amado escritor...
_ Não vou deixá-lo morto dentro daquele caixão horrível...
_ Agora que já sabe o dia... e sei que também me ama e
deseja-me quanto eu a ti desejo meu amado escritor...
_ Virei aqui mais vezes te ver para que acostume comigo
e assim sentirá que não sou fria como todos os mortais me
supõem que eu seja...
_ Te amo meu futuro primeiro marido!
Ela novamente me beijou e senti um tesão enquanto ela desa-
parecia para ir buscar outros mortais para levá-los ao descanso
na eternidade.
Fiquei ali assentado no banco perto do muro do alpendre com
a sensação de que "Mora Tis Mortis" ainda estava perto de mim.
( JACQUES CALABIA LISBÔA )
BELO HORIZONTE , 13 DE ABRIL DE 2016. MG.
Obs:
Se ninguém lembra é só ler meus contos anteriores
porque neles narro a primeira visita da morte e os outros
encontros com ela que tem me levado a escrever diversos
contos a respeito de MORA TIS MORTIS.
JACQUES CALABIA LISBÔA
Enviado por JACQUES CALABIA LISBÔA em 13/04/2016
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