Coisas que não se explicam
Não sei se porque minha família é do interior e como os demais conterrâneos cultua um quê de mistério, ou fantasia, até diria um certo temor com as coisas que não se explicam.
Assim, eu não poderia ser muito diferente deles e tenho meu lado metafísico e místico. Não muito exagerado devido aos anos de estudo, pesquisas e pitadas de ceticismo que absorvi de muitos com quem convivi.
Mas, enfim, há coisas que me intrigam ainda; como o poder de sonhos, que até então tento não acreditar muito, para não virar uma paranoia.
Eu, confesso que alguns sonhos, quando acordo e me lembro perfeitamente deles, às vezes são como uma comédia e suavizam a dureza do cotidiano.
Todavia, um deles até hoje não encontrei explicação, pois sonhei com uma figura feminina, totalmente indecifrável. Uma pessoa, que apesar de desconhecida, chama realmente a atenção de todos que a conheçam e a encontrem um dia.
Era uma mulher loira, com fartos cabelos a meio palmo, levemente ondulados e mal tratados. Via-se que não sabia maquiar-se bem, pois seu batom além de um forte vermelho estava borrado e emoldurava tal quadro uma grande pinta preta na altura de sua boca. Assim como sua boca, seus olhos claros traziam um borrão azul de maquiagem em volta deles.
Acordei rindo, sem saber ao certo porque sonhara com ela, que pensei
ser uma artista, mas não sabia do resto do sonho, nem o contexto da história, se ela entraria em cena de um picadeiro de circo, ou palco, pois acordei sem o seu final.
O mais incrível foi que no trajeto para o serviço, dois dias após tal sonho , dei de cara com a tal criatura que estava da forma como a descrevi: As mesmas roupas alegres, coloridas e floridas, além da mesma maquiagem, mal finalizada e exagerada.
Foi apenas um instante desse encontro que me frustrou, pois não pude saber nada mais sobre ela e qual a sua importância para eu ter sonhado com ela que caminhava no meio da multidão de uma calçada e eu dentro de um ônibus.
Contudo, até hoje penso nisso e não consigo uma explicação para tal mistério.
Assim esse sonho ficou como uma lacuna, ou uma história inacabada, só com início, meio e sem fim.