So Lonelly.
A aeronave atinge o solo aos trinta e dois minutos da segunda hora depois do meio dia. Quica três vezes até estabilizar e atingir velocidade de táxi e sair pela via de movimentação que os levaria ao finger designado. Hank acorda. Uma aeromoça o aborda.
"Chegamos senhor, bem-vindo a ..." Há uma garota ao seu lado, na janela e que acha graça da situação. Ele agradece à aeromoça e se levanta para procurar sua mochila no compartimento superior.
"Eu ronquei muito?" Pergunta envergonhado à garota que ria.
"Um pouco, mas logo o avião fez um desvio à direita e você tombou a cabeça, nada demais." Hank ri amarelo. Um tanto quanto aliviado, mas ainda não o suficiente, tenta puxar assunto com a jovem de cabelo Chanel e olhos castanhos e intensos.
"Que livro é esse? Desculpe a curiosidade..."
Ela marca a página e mostra a página do pocket-book e diz que é A Peste de Camus.
"Poxa vida, esse eu não li... Gostei d'O Estrangeiro... tem uma relação com uma música do The Cure né..." É interrompido pela aeromoça que com toda educação possível encaminha os passageiros pra porta de saída.
"Até mais ver... Eu sou Hank... Estou na editora Acme rua tal..." Gagueja ainda tirando ramelas dos olhos.
"Marie, a gente se encontra por aí." Conversam num misto de francês, inglês e portanhol.
Ciao, ciao...
...
O ar está frio e seco. Hank pede o isqueiro emprestado para um taxista em frente ao portão de desembarque e aproveita para perguntar um há um hotel perto e barato dali. A editora não fica longe, mas garoava e o jet-leg castigava sua cabeça.
"Ali, por ali... Cinco minutos" respondeu o motorista. Hank apaga a guimba do cigarro sob a sola do tênis, joga numa lixeira e toma o carro. Sobre o tempo o motorista não mentira, não foram nem seis minutos, o que incomodou foi a taxa...
"Faz um recibo pra mim por gentileza pra eu pegar o reembolso da agência, se eu pagar do bolso vou ter que viver de miojo e água da pia."
O taxista faz uns garranchos e assina com um hieróglifo que parece uma barata. Hank sem opção aceita o documento, não sem antes gravar o nome do cara e a placa numa letra pior ainda.
O câmbio parece com os táxis da cidade do Rio de Janeiro pra turista. Às vezes a gente se sente assaltado.
Acha o hotel, preço justo. Cama de cimento, chuveiro quente, toalhas e sabonetes e o lençol parecia estar limpo. Coloca o celular pra carregar na única tomada aos pés da cama e ouve os recados do dia. Tudo sob ordem, ainda que não resolvido. Reunião foi confirmada pro dia seguinte, encontrar-se-iam no escritório e desceriam pra almoçar e fechar negócio numa cantina vizinha. Legal, menos um gasto.
"Porra, não peguei o telefone da Marie..." O telefone da recepção toca. Intrigado atende.
"Alô?!"
"Oi Hank, sou eu. Fiquei insone e pesquisei o endereço da sua agência... Imaginei que você estava aí. É o único hotel próximo que encontrei... Enfim, não durmo e não gosto de beber sozinha... Não conheço ninguém aqui. Topa uma garrafa de vinho tinto aqui no bar do Soho?"
"Quinze minutos."
Marie ri e desliga. Agradece o bartender com uma gorda gorjeta. Vai até o terraço e acende uma cigarrilha. Hank pesquisa no mapa o melhor trajeto.; estava no Hotel Ariel. sete minutos a pé. Checa o relógio e sai correndo sob a garoa quase sendo atropelado por um carro que não foi possível identificar numa das esquinas.
Chega na recepção e pergunta sobre o bar. A recepcionista aponta sem demonstrar emoção. Hank enxuga o suor da testa acalmando o ritmo.
"Buenas..." Força para não parecer artificial quando vê Marie.
"Lo que sea, tonto. Vamos pegar pegar uma mesa ao ar livre "
Hank confere o relógio de parede e obedece.